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QUE FIZESTE DO TEU IRMÃO, DA TUA IRMÃ?

(Gn 4, 9; Mt 25, 31ss)
Atualmente, além da guerra na Ucrânia, existem vários povos em situação de conflito bélico.

Actualmente, além da guerra na Ucrânia, existem vários povos em situação de conflito bélico. Como diz o Papa Francisco, estamos a viver uma guerra mundial não declarada.

A violência doméstica aumentou drasticamente.
Só na Europa, existem cerca de 8 milhões de refugiados.
O tráfico de pessoas não deixa de aumentar.
No mundo, existem 160 milhões de crianças vítimas de trabalho infantil.

Segundo o Relatório de 2022 (ONU), 1,2 bilhão de pessoas vivem em pobreza multidimensional aguda, isto é, vivem com menos de US$ 1,90 por dia. 1% da população mundial detém 80% da riqueza existente.

Desde 1990, a nossa Declaração da Missão RSCM diz, expressamente, que somos chamadas a partilhar a missão geradora de vida de Jesus Cristo; que o desafio do Evangelho e o espírito de fé e zelo que marcaram os nossos fundadores nos impulsionam a responder às necessidades do nosso tempo e a trabalhar com outros numa acção efectiva pela justiça evangélica; que, enviadas a promover a vida e dignidade de todos os nossos irmãos e irmãs, nos colocamos, a nós mesmas e aos nossos recursos, ao serviço daqueles que têm mais necessidade de justiça, tornando os fracos, os mais necessitados, os marginalizados, os sem voz, capazes de trabalharem efectivamente pelo seu próprio desenvolvimento e libertação.

Pelas Constituições RSCM já éramos chamadas a ser fiéis à nossa herança, atentas aos sinais dos tempos e ao apelo da Igreja, a comprometermo-nos ao serviço da justiça evangélica, seja qual for o nosso ministério e o lugar onde o desempenhamos (#8); já éramos chamadas a integrarmos as nossas vidas centrando-as em Cristo cujo amor em nós é fonte da nossa fé e zelo (#9).

O espírito do Instituto é, pois, um espírito de fé e zelo (#5), isto é, em Jesus Cristo estamos viradas para Deus, sabemos que é n’Ele que vivemos, nos movemos e existimos (Act 17, 28), n’Ele confiamos totalmente – fé – e, por Ele, ouvimos as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos seres humanos de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem. Como nos diz o P. Gailhac, não basta que sejais pobres; deveis ser as servas dos pobres, para os libertar da pobreza imposta, da pobreza existencial – zelo. Assumir esta dinâmica de fé e zelo, implica viver num vai-e-vem constante entre Deus e os outros, onde quer que nos encontremos; implica perscrutar todas as pobrezas existenciais à nossa volta, seja nos colégios, centros sociais, pastoral paroquial, voluntariado em qualquer periferia.

E as pobrezas são muitas: pobreza de afecto familiar na infância e/ou velhice, pobreza material; pobreza de quem tem de fugir do seu povo (refugiados), pobreza de quem cai nas redes do tráfico humano…

A nossa missão ao serviço da educação, tão cara ao Padre Gailhac como ao Papa Francisco, e que faz parte desde as origens do IRSCM, é um dos grandes meios que temos ao nosso alcance para atingir dois objectivos muito importantes, no meu ponto de vista: ajudar os mais necessitados a tornarem-se capazes de trabalharem efectivamente pelo seu próprio desenvolvimento e libertação; e levar os ricos a tomar consciência da fraternidade universal, da igual dignidade de cada ser humano, de que se atinge a verdadeira humanidade, quando colocamos o interesse do bem comum acima do interesse pessoal (cf. Mt 16, 25).

Querendo ser discípula/o de Jesus Cristo, só podemos viver para que todos tenham vida e vida em abundância. Como nos diz o Padre Gailhac, deveis ser outros Cristos. Devemos responder à pergunta em qualquer circunstância: que fizeste do teu irmão, da tua irmã?

Ir. Maria Julieta, rscm

Nota: A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.