De facto, a nossa formação enquanto indivíduos começa em casa. Especialmente nas primeiras fases da nossa vida, a família – e, especialmente, os pais – desempenham um papel estrutural do nosso desenvolvimento e crescimento pessoal. É com eles que adquirimos muitos dos valores que irão guiar o nosso projeto de vida, é com eles que aprendemos a dizer “por favor” e “obrigado/a”. Não posso, então, deixar de enaltecer o papel dos pais e da família na formação de gerações jovens íntegras, tolerantes, e preocupadas com o bem comum. Contudo, o ralhete com que abro esta reflexão parece remeter para a ideia de que a transmissão de valores é um dever exclusivo dos pais (ou, num sentido mais lato, da família), minimizando, assim, o papel de tantos outros que, em diferentes contextos e etapas do nosso percurso, se assumem também como verdadeiros educadores.
Dum ponto de vista utilitário, rapidamente concluímos que, quer seja na escola, na universidade, ou no emprego, é nestes locais que passamos grande parte do nosso tempo. Assim, é inevitável que nos deixemos influenciar: podemos ver, num professor ou auxiliar de educação, um exemplo a seguir nas relações interpessoais; podemos olhar para um colega de curso e reconhecer virtudes de organização e disciplina; podemos estabelecer objetivos de carreira com base no percurso profissional de um colega de trabalho.
Com sorte, teremos até quem se preocupe o suficiente com a nossa formação para exercer em nós esta influência de forma ativa, elogiando quando o elogio é merecido e chamando à atenção quando uma palavra mais dura é necessária.
De uma forma ou outra, integramos no nosso projeto de vida os frutos das nossas relações com quem connosco convive diariamente nestes espaços.
Por outro lado, a compreensão dos desafios e implicações sociais e éticos das diferentes áreas de conhecimento é fundamental para uma atividade profissional significativa e bem orientada, assente num código de conduta coeso. Assim, é fundamentalmente dever dos professores fomentar uma visão abrangente da área de estudo, já que o simples conhecimento teórico e técnico – embora importante – se torna insuficiente para a formação de uma geração íntegra de futuros profissionais. À medida que progredimos na nossa jornada académica, estudamos assuntos cada vez mais avançados e especializados, pelo que este papel se torna mais notório na transição para o ensino superior.
Contudo, a sensibilidade pelo outro e a capacidade de entender o seu ponto de vista são competências que, necessariamente, vêm de trás, não sendo, por isso, possível dissociar as diferentes etapas da nossa educação.
Acredito, por isso, que a educação é uma jornada na qual intervêm diversos agentes em diferentes espaços e momentos: desde os pais e a família em casa, passando pelos professores e auxiliares de ação educativa na escola, até aos docentes na universidade e os colegas no emprego. É através da educação que, de forma construtiva, somos moldados enquanto indivíduos, gerações e sociedades, revestindo-se então de uma importância fundamental na promoção de um código de valores coesos nas diferentes fases da nossa vida – seja ela familiar, profissional, relacional, vocacional, ou qualquer outra. Pelo que sou hoje e ambiciono ser amanhã, um sincero obrigado a todos os meus educadores
Tomás Freitas Rocha
Antigo aluno do CNSR