Parecem, entre si, contraditórios, todavia, quando adentramos nos seus significados, percebemos que, da espera, só desesperamos quando não somos capazes de alcançar, mas, em cada dia da nossa vida, somos convidados a ser sinal de esperança e presença, para os que vivem a nosso lado, d´Aquele que agora esperamos. Estamos a entrar no tempo de Advento, este tempo favorável da espera de Deus, da sua vinda até à nossa vida para habitar a nossa tenda e, deste modo, podermos alargar o espaço físico e espiritual da nossa existência.
No coração do calendário litúrgico, ergue-se o tempo do Advento, um período de espera expectante e jubilosa, que nos convida a contemplar a promessa de Deus e a preparar os nossos corações para a vinda do Deus Menino. Este é um tempo de antecipação, um compasso de espera marcado pela certeza da realização das promessas de amor feitas por Deus à humanidade.
O Advento coloca-nos diante da incrível “operacionalização” de Deus, que não apenas cumpre as Suas promessas, mas o faz de maneira tão sublime que nos envolve na magia da expectativa.
A espera pelo Deus Menino não é uma mera ansiedade pelo nascimento de uma criança em Belém, mas sim a espera da novidade de Deus, da chegada de Jesus como Luz do Mundo. Um tempo de preparação interior, de silêncio de alma, que permite que a luz de Deus penetre as trevas que porventura existam nas nossas vidas.
Não celebramos um evento histórico, mas uma realidade eterna que se renova a cada ano. Deus vem habitar a nossa existência. O Filho desce até à Humanidade não só para, por Ele, nos tornarmos filhos de Deus, como também para nos divinizar.
Ó feliz descida de Deus, que cuida da subida da Humanidade!
É a promessa cumprida. Deus não nos abandona na escuridão, mas vem ao nosso encontro, iluminando o caminho da vida com a Sua graça redentora.
A promessa de Deus manifesta-se na simplicidade da manjedoura, no humilde estábulo em Belém; aqui percebemos a grandiosidade do Amor, que se faz pequeno para habitar entre nós. A majestade de Deus manifesta-se na singeleza do presépio, recordando-nos que a verdadeira grandeza está na humildade e na entrega despretensiosa. Esperamos o Deus connosco, que vem para estar no meio do Seu povo. A simplicidade do presépio destaca a acessibilidade de Deus, que nos visita e de nós cuida.
Ó feliz visita de Deus, que se faz parte da nossa história e experiência humana!
A expectativa da vinda do Deus Menino é, assim, um convite à transformação pessoal e comunitária. É um despertar à vigilância espiritual, à abertura dos corações para acolher a novidade, que se manifesta de maneiras muitas vezes inesperadas. É a consciência de que, mesmo nas circunstâncias mais humildes e aparentemente insignificantes, Deus está presente, cumprindo a Sua promessa de amor e redenção.
Ao mergulharmos nas “águas profundas” do Advento, somos convidados a ser agentes ativos da esperança.
A espera pelo Deus Menino não é passiva, mas uma jornada de compromisso e responsabilidade. É um tempo de preparação não apenas para celebrar o nascimento de Jesus, mas para acolhê-Lo nas nossas vidas diárias.
Assim, o Advento não é um intervalo no calendário litúrgico, mas uma experiência espiritual que nos desafia a sermos fiéis à promessa de Deus, a vivermos na expectativa constante da Sua presença transformadora.
Ó feliz espera de Deus, que vem até nós para colaborarmos com Ele na transformação do mundo!
Que este tempo litúrgico nos inspire a renovar a nossa fé, a acender a chama da esperança no meio das incertezas da vida e a receber o Deus Menino de coração aberto e alegre. Que a luz do Advento brilhe intensamente na nossa vida, guiando-nos na jornada da fé, amor e reconciliação e que, como o Ven. Pe. Jean Gailhac também possamos dizer: “Sejamos Jesus Cristo. É para isso que Ele vem.”
Paulo José Ribeiro Campino
Diretor Pedagógico do CSCM - Lisboa