O ano novo dá-nos a liberdade de recomeçar, de fazer escolhas, de refletir no tempo já vivido e de redefinir novos caminhos. Não se trata de elencar um conjunto de resoluções, como um receituário que tipicamente colocamos de parte no final do primeiro ou do segundo mês de ano, mas sim um convite a, como protagonistas da nossa vida, nos desafiarmos a reconstruir a nossa história, integrando as aprendizagens que já vivemos e redefinindo um novo caminho que nos represente.
Os dias entre o Natal e a Passagem de Ano dão-nos algum tempo para parar, tempo fundamental à introspeção e à reflexão. Aproveitemos, então, este período para pensar no que para nós é essencial e recomeçar com tranquilidade, integrando cada elemento vital no nosso dia a dia.
Olhemos para 2024 como um ano para sermos mais autênticos, mais verdadeiros uns com os outros, mais honestos connosco e com o nosso próximo. Para lutar pelos nossos sonhos, olhar mais alto, construir novos projetos, desacomodarmo-nos das rotinas. Arrisquemos a guardar tempo para nós, a deixar o silêncio entrar e nos conectarmos com o que de mais fundamental cada um de nós tem. Neste novo ano que agora começa, tenhamos coragem para desatar os nós que nos prendem, para enfrentar os medos que nos reprimem, para ir mais longe em cada dia, sair da rotina segura, recriar e inovar.
Neste primeiro mês do ano, que nos dá a possibilidade de nos redefinirmos, reinventarmos, reorganizarmos, comecemos por agradecer.
Assumindo como mote o Dia Internacional do Obrigado, celebrado a 11 de janeiro, desafio cada um de nós a criar o seu diário da gratidão. A pensar, objetivar, escrever, registar, no final de cada dia, três coisas pelas quais somos gratos. Não se trata de uma simples lista, mas de, ao escrevermos, refletirmos sobre a importância de cada um destes elementos na nossa vida. Deixo-nos o repto de praticar este diário durante um mês, e de sentir os impactos deste pequeno exercício no nosso bem-estar.
Associamos, muitas vezes, a felicidade ao ter mais, mais amigos, mais dinheiro, mais acontecimentos sociais, mais viagens, férias, etc. Porém, a investigação demonstra que a prática da gratidão é uma das ferramentas mais poderosas no nosso caminho para sermos mais felizes em cada dia. Segundo Martim Seligman, pioneiro da Psicologia Positiva, cada um de nós tem a capacidade de aprender a ser mais positivo, mais otimista na vida, a ter mais esperança no futuro. E a prática da gratidão surge como o correlato mais forte com a felicidade. A ciência tem vindo a demonstrar que a gratidão está associada a maior felicidade e satisfação na vida, a uma menor valorização do materialismo, a uma melhor saúde física e mental, menor cansaço, a um sono mais reparador e maior resiliência.
Cultivar a gratidão permite-nos mudar o foco dos sentimentos negativos para os positivos, deixar de pensar no que nos falta, no que não temos, para agradecermos cada dia, cada gesto, cada encontro.
Com um obrigado no coração e a coragem nas mãos, agarremos este novo ano com renovada energia, procurando fazer de cada pequeno momento um grande momento, ir mais longe nas pequeninas e nas grandes coisas, e, seguir as palavras de Fernando Pessoa, “Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes”!
Como autores que somos das nossas histórias, recomecemos assim:
“Recomeça...
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças…”
Sísifo, Miguel Torga, Diário XI
Marta Teixeira Bastos
Psicóloga
