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CORAÇÃO BOM

«Tem um coração bom».
Assim nos referimos a alguém cuja bondade se destaca e nos sensibiliza.

Junto de pessoas de coração bom sentimo-nos bem, apetece estar, parecem difundir uma boa energia à sua volta. Transmitem dinamismos de paz, de confiança e ânimo, compromisso, responsabilidade, cuidado com os outros e com o bem comum.

Mais do que desejo e afeto, o coração diz a pessoa. Na visão cristã, é entendido como sede da consciência e liberdade, lugar interior onde o Espírito Santo segreda a filiação divina, onde o afeto, a razão e a vontade se unificam. O coração bom simboliza integridade, está em sintonia com a Fonte da Bondade: “Porque me chamas bom? Bom é só Deus” (cf Mc 10, 18) - esclarece Jesus.

Celebramos anualmente a solenidade do Sagrado Coração de Jesus e a festa do Imaculado Coração de Maria, em dois dias que se sucedem. Mais do que devoção piedosa, é convite a aproximarmo-nos do pulsar do Coração de Jesus e de Maria, corações que se comungam e a nós se oferecem como revelação do Coração de Deus, uma espécie de compêndio de humildade e misericórdia: “Vinde a Mim todos os que andais cansados e oprimidos … aprendei de Mim que sou manso e humilde de coração.” (Mt 11,28-29).

No nosso Instituto celebramos solenemente estes dias de festa.

O nosso fundador, alinhado com a tradição bíblica, vê no Coração de Jesus a “Fonte da Vida de Deus e das Suas graças “, o símbolo da fidelidade de Jesus ao Pai e do Seu Amor desmesurado pelos homens e mulheres de todos os tempos. O Coração de Jesus, sendo divino e sagrado, é também inteiramente humano: arde de zelo para tornar Deus conhecido e amado, exalta-se a denunciar a injustiça, acolhe todos e inclina-se com afeto diante da fragilidade humana; sofre e compadece-se ao ver a multidão faminta, estremece de alegria pelos pequeninos, preocupa-se com os excluídos, conhece e ama incondicionalmente, cuida com vínculos de ternura. É um coração que vê, que vive, que se dá e se deixa trespassar para permanecer aberto a todos, e todos possamos ser curados pelo “amor de Deus que ultrapassa todo o conhecimento” (Ef 3,19).

É preciso contemplar, unir o coração ao Coração de Jesus, habitar no Seu Coração trespassado e aberto – aconselha o P. Gailhac.

Assim seremos revestidos dos sentimentos de Cristo e das suas disposições interiores – condição de autenticidade no Seu seguimento e participação na Sua missão. A realçar esta importância, o Papa Francisco refere: “o Coração trespassado, dilacerado é eloquente. Fala sem palavras, porque é misericórdia em seu estado puro, amor que é ferido e dá vida. É Deus”.

Sendo a nossa espiritualidade cristocêntrica, com influências da Escola Francesa de Espiritualidade de Bérulle, do seculo XIX, Maria é o nosso modelo, ela nos introduz na intimidade e comunhão com Jesus: “O que há no Coração de Maria? O seu amor a Jesus, nada mais do que o amor de Jesus” define Gailhac. “Deus é a sua vida, Deus é tudo nela”.

Maria abre-nos o seu coração para mostrar o coração de Jesus: “Tudo o que admirais em Jesus encontrareis em Maria (…) Ele é o Sol e só podemos contemplá-lo por transparência. Maria é esta espécie de nuvem luminosa que nos permite contemplar Jesus vivendo nela”. (GS/26/I/76).

Em Maria aprendemos a sabedoria do coração, o entendimento maturado, a abertura, a presença, a solicitude.

Nela vislumbramos a Esperança firmada em Deus, por vezes, coabitada com a dor.

O nome do Instituto impele-nos a esta relação profunda: “Sagrado Coração de Maria quer dizer Maria na sua totalidade. Se querem, pois, ser dignas deste nome, devem habitar neste coração sagrado e ser reflexo deste coração que arrebatou o próprio Deus. Sim, é preciso que assim seja, se querem ser, como Maria, cooperadoras na Obra da Redenção.“ (GS/09/XI/82ª).

Na tradição católica, a relação com os Corações de Jesus e de Maria é terreno sólido para a vivência da fé e progresso na relação com Deus. É também conforto e consolação para os momentos de tribulação. Assim tem acontecido em períodos conturbados da História, incluindo situações recentes, em que a Igreja recorre ao Coração Imaculado de Maria, consagrando-lhe o mundo, pedindo o seu auxílio e intercessão.

No nosso peregrinar, sentimo-nos necessitados do conforto do seu coração e a urgência da sua intervenção materna.

Precisamos recuperar a sabedoria do Coração – exorta o Papa Francisco, na mensagem para o dia mundial das Comunicações Sociais – condição para sabermos olhar a realidade atual e interpretar a novidade do nosso tempo.

Na verdade, não faltam os sinais do Espírito, tantas vezes misturados com doenças do coração: a superficialidade e os ritmos acelerados, a guerra e muitas outras formas de violência, a exclusão e comportamentos egocêntricos, a indiferença, a corrupção, o salve-se quem puder…. Doenças que enfraquecem o coração do mundo, fazem diluir a fraternidade, o «NÓS».

Precisamos recuperar a saúde e a sabedoria do Coração. Transparecer a Compaixão e o Amor que se traduza mais em obras do que em palavras: tive fome e deste-me de comer, sede e deste-me de beber, olhaste-me e viste o meu rosto, levantaste-me, acolheste-me como irmão, …

Maria acompanha-nos. Com o seu coração materno, segreda: Fazei tudo o que Ele vos disser!

M.ª Teresa Nogueira, rscm