O que é o som? O som é a propagação de uma determinada frequência vibratória audível, seja qual for a sua fonte sonora, a sua altura, timbre, duração ou intensidade. No ar, o ambiente natural dos seres humanos, o som propaga-se à velocidade de cerca de 343 metros por segundo.
E o que é a música? A música é a organização e manipulação intencional e criativa do som e do silêncio, com recurso a processos composicionais que se servem de códigos, terminologia e de processos universalmente convencionados.
A formação do caráter das crianças e dos jovens pode ser definitivamente influenciada pela forma como é estimulada a sua sensibilidade estética, sobretudo no que se refere à música. Na verdade, estudar música na infância traz um conjunto de benefícios decisivos para o desenvolvimento cognitivo, emocional e social da criança.
É muito importante que o professor de música tenha uma boa formação científica, pedagógica e técnica, para poder, de forma competente, conduzir da melhor forma a tarefa complexa de educar através do ensino da música. Além disso, é fundamental que o professor de música tenha clara consciência da importância da sua intervenção no processo educativo do aluno, a fim de que o faça com eficácia. A direção escolar deve, igualmente, fomentar um projeto educativo em que a educação pelas artes, e pela música em particular, disponha dos meios e do tempo necessários ao desenvolvimento das competências inerentes a esta vertente da formação dos alunos.
Aprender música pode melhorar as capacidades matemáticas e de raciocínio espacial, uma vez que a leitura de partituras e o reconhecimento de padrões musicais e de combinações de sons envolvem processos semelhantes aos utilizados na matemática e na resolução de problemas.
Por outro lado, a prática musical pode aprimorar competências linguísticas e de alfabetização. O treino auditivo e a prática do canto, individualmente ou em coro, ajudam a criança a distinguir diferentes linhas melódicas simultâneas, assim como a desenvolver a pronúncia silábica e a enriquecer o seu vocabulário. É frequente verificarmos como as crianças cantam facilmente noutras línguas, respeitando os fonemas respetivos.
Estudar música exige concentração e memorização.
A capacidade de foco e a memória das crianças são permanentemente estimuladas. Por outro lado, tocar um instrumento musical desenvolve a coordenação motora geral e, sobretudo a motricidade fina. Por exemplo, tocar piano exige movimentos sincronizados das mãos e dos dedos; tocar um instrumento de sopro (flauta, por ex.) desenvolve a coordenação independente dos dedos, assim como combina estas associações digitais e com a respiração; tocar bateria desenvolve a coordenação dos braços e das pernas. E tudo isto em conjugação com a leitura simultânea de símbolos musicais e em obediência a uma pulsação pré-definida.
A prática musical regular treina a disciplina, pela necessidade de uma prática constante. Superar desafios musicais promove a persistência e a resiliência. Num mundo em que a superficialidade e a busca do resultado imediato são uma constante, a prática musical sistemática remete para a constância, para a paciência e para a autossuperação permanente.
A música, depois de alguma capacidade técnica, pode constituir-se como um meio privilegiado para a identificação e expressão de emoções, ajudando assim as crianças a entender, a gerir e a comunicar a sua emocionalidade, nomeadamente em contexto de teatralização.
Ao participarem em atividades musicais de grupo, como coros ou orquestras, os alunos estão a trabalhar competências como o trabalho em equipa, a comunicação e a socialidade: dar a vez ao outro, ouvindo-o; assumir o papel de líder, cantando/tocando a solo; respeitar o tempo musical do conjunto; contribuir diligentemente e de forma adequada para o sucesso do grupo.
Aprender e executar corretamente uma peça musical, pode, igualmente, aumentar a autoestima e a confiança das crianças, proporcionando-lhes um sentido de realização e de sucesso que é transportável para outras disciplinas, atividades ou situações.
A música expõe ainda as crianças a diferentes culturas e formas de expressão, promovendo a valorização da diversidade.
A cultura inclusiva é o resultado natural desta experiência com a pluralidade das expressões.
Em todas as fases do contacto das crianças com a formação musical é incentivada a criatividade e a imaginação, sendo-lhes proporcionadas oportunidades de experimentar sons e de criar as suas próprias composições. A grande lição inevitável é a de que é sempre possível ir mais longe, construindo algo de bom com o que vamos encontrando ao longo do caminho.
Os benefícios enumerados, apesar dos limites compreensíveis de espaço e de tempo aqui impostos, tornam a educação pela música uma ferramenta valiosa para o desenvolvimento holístico das crianças, não só preparando-as para os resultados escolares, mas também para os desafios emocionais e sociais da vida. Quem estuda a linguagem musical de forma sistemática, independentemente de poder vir a fazer ou não da música a sua profissão, fica com mais ferramentas para enfrentar a realidade complexa da vida.
Enquanto educador pela música, acredito na eficácia e no valor de uma formação abrangente, integrada e diversificada.
Ut Vitam Habeant!
Pedro Teixeira
Professor coordenador do Departamento de Música do Colégio do Rosário