Em 1951 os computadores já eram capazes de jogar xadrez. Em 2022 surgiu o ChatGPT que rapidamente se democratizou. Com a posterior explosão das aplicações com AI, colocaram-se naturalmente questões novas: “Será a AI algo bom?”, “Será segura?” e “Deveremos colocar limites à sua utilização?”.
Por um lado, a AI traz-nos enormes benefícios, como por exemplo conseguir identificar cancros em imagens médicas de difícil análise melhorando o processo de diagnóstico, conseguir analisar biliões de transações bancárias para prevenção de fraude a um ritmo impossível para humanos, conseguir criar assistentes pessoais como a Siri e a Alexa que facilitam o nosso quotidiano, conseguir prever quando máquinas industriais irão avariar ou quando terramotos irão acontecer, conseguir otimizar linhas de distribuição energética e redes rodoviárias, e até descobrir novos medicamentos. Neste momento, as possibilidades estão principalmente limitadas pela criatividade dos investigadores e engenheiros, dado que o poder de processamento e a abundância de dados são cada vez maiores.
Por outro lado, infelizmente vemos várias aplicações maliciosas de AI. O uso de Deepfakes para colocar em vídeo pessoas a dizerem palavras que nunca disseram, distorcendo as relações com os outros e com a realidade, ou scams que criam perfis maliciosos usados para executar fraudes, são exemplos de problemas que já existiam, mas que a AI veio tornar o seu uso muito mais acessível e difícil de detetar. Há ainda outras utilizações nocivas como as aplicações militares autónomas, a monitorização de pessoas sem o seu consentimento, o uso de dados não autorizados para o treino de modelos de AI com repercussão no trabalho artístico, científico e literário de vários profissionais, e a publicidade agressiva com o uso de algoritmos. O impacto negativo que estas aplicações causam, resulta não só da natureza das mesmas, mas também da desinformação do público em relação a estas.
Todas as inovações que foram introduzidas ao longo dos séculos trouxeram vantagens e desvantagens.
Antes de haver automóveis não havia acidentes rodoviários, a revolução industrial aumentou consideravelmente os níveis de poluição, antes de haver Internet não havia vícios em redes sociais, …mas sabemos que os benefícios dos avanços tecnológicos superam os malefícios. O mesmo acontecerá certamente com a AI. Não podemos travar o avanço tecnológico, mas devemos procurar modos de o conhecer e usar para o bem da humanidade, potenciando o que este tem de bom e obrigando a que ética regule todo este processo, através de legislação adequada e não apenas de um conjunto de intenções ou boas vontades.
Não podemos ser inocentes neste processo. Temos de empenharmo-nos veementemente para obter o que de melhor a IA nos pode dar, mas em simultâneo impedirmos com a mesma energia que alguém a possam usar para malefício da humanidade e sobretudo dos mais vulneráveis.
No mundo da educação, importa usar este recurso para potenciar o desenvolvimento de competências/ferramentas que serão usadas pelas crianças e jovens de hoje nas profissões que irão desempenhar no futuro.
É possível criar ambientes imersivos em várias áreas do saber, simular experiências científicas, criar explicadores virtuais, etc. E já não há retorno neste processo. As crianças que estão agora na escola terão de conviver com a AI no seu quotidiano e por isso têm de saber tirar proveito das suas potencialidades e saber proteger-se e proteger terceiros dos seus malefícios.
Concluindo, Inteligência Artificial é um novo paradigma que traz um grande leque de benefícios e alguns malefícios, pelo que deve ser usada e promovida, tendo sempre em consideração as implicações e perigos deste uso. Não devemos ter medo de a usar nem dar ouvidos a quem se opõe a ela cegamente, mas sim informarmo-nos e tomarmos decisões conscientes enquanto à sua utilização.
AI veio para ficar e será o nosso futuro, um futuro onde os problemas de hoje serão meras preocupações do passado, por isso temos de a integrar no nosso dia a dia de forma saudável de modo a dar um passo em frente.
João Bernardo Costa
Mestre em Engenharia Informática pela Universidade do Porto