Este ano o verão será diferente. Este ano um desafio desviou-me da areia e do mar onde normalmente procuro fazer um reset ao sistema. As irmãs desafiaram-me a participar na missão UT VITAM em Timor-Leste. Na prática foi um convite feito pela segunda vez, uma vez que já em 2020 era para embarcar em missão para Zumalai, mas tudo teve que ser desmarcado devido à pandemia. Este ano retomou-se a missão e voltei a ser convidado. Este convite é sem dúvida um sonho que vem embrulhado em forma de desafio.
A simples ideia de partir, de poder sair e conhecer sítios novos, sempre me encantou.
Adoro viajar. Quando estudante, as palavras do Professor Orlando Ribeiro, de quem não tive o privilégio de ser aluno, ainda se faziam ouvir: “a Geografia faz-se com os pés”. Desde então, o pré-existente gosto por viajar ganhou um novo olhar. Este olhar de geógrafo passou a fazer parte da bagagem em qualquer viagem que faça, nem que seja só ao outro lado da rua, passou a haver uma forma diferente de ver. Sempre a tentar entender as paisagens que vou conhecendo, a procurar ligações, explicações, imaginar formas de agir.
Também a possibilidade de um dia partir em missão há muito me acompanhava, e só ganhou força ao ouvir os relatos e o sentir dos colegas que participaram nas missões anteriores. Traziam algo de diferente neles.
O ano passado, graças a um inesperado convite, pude participar numa primeira missão na Área de Moçambique. Juntamente com a Irmã Cidália e a Catarina Fernandes (do Colégio de Lisboa), fomos ao encontro das comunidades RSCM. Levávamos um objetivo bem definido – apoiar na capacitação digital das seis comunidades locais. Foram duas semanas em que trabalhámos juntamente com irmãs, noviças e postulantes, num espírito de partilha e comunhão, onde todos aprendíamos em conjunto.
Tivemos oportunidade de conhecer diferentes facetas do trabalho que as RSCM fazem em Moçambique nas várias localidades, e de perceber a importância que têm nas comunidades locais.
Para mim foi um momento de crescimento. Sei que conheci somente uma muito pequena parte de um país imenso, sei que o que vi e vivi foi como que um pequeno instantâneo, mas abriu-me os olhos para uma realidade que só conhecia em teoria.
Por mais que se leia, veja filmes, documentários e notícias, nada se compara com o pôr os pés a caminho.
Sentir os cheiros e os sabores, ver os rostos e os olhares, ouvir a música e as vozes, celebrar e rezar numa cultura diferente da nossa. Apesar de ter crescido a ouvir histórias de Moçambique, apesar de tudo o que li, aprendi e conhecia sobre este país, nada me preparou para a alegria do povo moçambicano. Num país onde as dificuldades são tremendas, onde o dia a dia é marcado pelo tanto que falta, há algo muito maior do que tudo isso. Os sorrisos. Sorrisos genuínos que nascem logo no olhar, uma felicidade efervescente, uma gratidão genuína em cada gesto e uma coragem tremenda perante as dificuldades. Sem dúvida um povo feliz, feito de sorrisos e generosidade.
Agora é um desafio diferente. Uma nova realidade com objetivos diferentes, mas há algo que se repete. Após a missão em Moçambique, além do olhar de geógrafo, passo a levar um coração de missionário.
Partilho esta missão com a Irmã Lídia e um grupo de onze jovens dos colégios de Lisboa e Porto, e vamos procurar dar corpo ao lema do Instituto. Depois da partilha que tivemos no retiro no CEJG, atrevo-me a tentar dar voz a este grupo de missionários.
Vamos com o objetivo de partilhar, apoiar e crescer junto dos meninos em Timor. Com Maria como exemplo, queremos partir movidos pelo que nos vai na alma, queremos oferecer uma ajuda solidária partilhando o que somos e o que levamos no coração. Com o aperto e a preocupação natural por todos os que deixamos em Portugal, confiamos que estarão guardados e protegidos durante a nossa ausência.
Desejamos que esta missão seja um momento de encontro com o outro, com simplicidade, humildade e procurando responder da melhor forma aos apelos que surgirem.
Bruno Agostinho
Professor