Padre Jean Gailhac (1802 - 1890)
Nasceu numa pequena cidade de Béziers, no sul de França,
a 13 de Novembro de 1802, em tempo de guerra,
no seio
de uma família cristã de 7 filhos.
Desde muito cedo
demonstrou grande generosidade e amor ao próximo.
À medida que ia crescendo, aumentava nele o desejo de conhecer mais Jesus e de
se dedicar todo à obra de Deus, decidindo ser padre:
"Quero ser padre e
hei-de sê-lo, só para Deus e para os outros".
Ordenado em 1826 na diocese de Montpellier, foi dar aulas de
Filosofia para o Seminário Maior, exercendo também actividades ligadas à
formação dos alunos.
Tornou-se evidente a qualidade da sua presença e a firmeza das suas convicções.
A sua influência ultrapassou a de um simples professor. Teve um
papel preponderante na formação dos alunos, ajudando-os na
preparação da vida sacerdotal.
Fundou várias congregações religiosas, indo ao encontro de
necessidades específicas, especialmente dos mais abandonados:
- Padres do Bom Pastor, para exercerem o ministério no campo,
onde faltavam sacerdotes;
- Irmãos do Bom Pastor, para educarem rapazes órfãos e
prepará-los para o trabalho da agricultura;
- Religiosas do Sagrado Coração de Maria, com a missão de
assumirem qualquer trabalho que tornasse Deus conhecido e amado;
- Irmãs Oblatas, como auxiliares nos trabalhos de caridade das
Religiosas do Sagrado Coração de Maria.
Toda a vida sacerdotal do Padre Gailhac se centrou na
formação destes
grupos que ele via como instrumentos valiosos para irem ao encontro das
necessidades da sociedade humana, especialmente dos mais abandonados e, por
conseguinte,
para glorificarem Deus.
Destas congregações, permaneceram apenas as
Religiosas do Sagrado Coração de Maria.
Quando se ordenou Padre, foi-lhe oferecida uma brilhante carreira académica mas,
em vez disso, decidiu-se pelo trabalho com os pobres como capelão do
Hospital de Béziers.
O Hospital Central de Béziers era civil e militar e a ele acorria toda a
espécie de doentes: soldados, prostitutas, velhos indigentes da cidade
e redondezas.
Aí o Padre Gailhac constatou o grau de descristianização do
povo e amadureceu o desejo de promover a vida e dar a conhecer Deus a
todos os que assistia.
O seu trabalho consistia em visitar os doentes, confessar, distribuir a comunhão
e a Santa Unção, celebrar a missa e pregar na Igreja de Saint-Aphrodise.
Também foi nomeado confessor das irmãs de Saint-Maur e das Carmelitas de
Bédarieux.
No meio da multiplicidade de trabalhos, Jean Gailhac dedicou muitas
horas do dia ao estudo e à oração, ocupando-lhe as suas actividades
todo o dia. Pelo menos durante os primeiros anos, continuou ligado ao Seminário.
Com uma sensibilidade especial às mulheres marginalizadas e doentes
no hospital, Gailhac verificou que, uma vez curadas e regressando ao seu
ambiente, retrocediam na sua regeneração. Começou por enviar algumas para o
Refúgio de Montpéllier mas, sonhando apoiar um grupo mais numeroso,
comprou em 1834, uma casa ampla e com pátios grandes, em Béziers, onde vai
começar a obra.
Sob o nome de casa do Bom Pastor, inaugurada a 29 de Novembro de 1834,
instalou o Refúgio e o Orfanato, durante vários anos orientado
por irmãs de Congregações Religiosas já existentes mas sem continuidade, o que o
levava cada vez mais a pensar na necessidade de criar uma congregação
própria, que partilhasse a sua sensibilidade e visão de fé na
orientação dessas obras.
A base de sustento da casa era o ordenado do Padre Gailhac como Capelão do Hospital. Os amigos e benfeitores concorriam para as despesas, mas os contributos não eram certos. Durante muitos anos os recursos continuavam diminutos e em 1845 recorre mesmo a uma quermesse para obter fundos.
Entre os amigos e benfeitores do Bom Pastor, incluía-se desde a
primeira hora Eugène Cure, amigo de infância de Gailhac, casado
com Apollonie Pelissier.
Gailhac era visita assídua dos Cure e director espiritual do casal, que procurou
ajudá-lo a enfrentar as carências da obra que, para eles, respondia a uma
necessidade premente de Béziers. Foram eles que lhe deram uma grande
ajuda para a construção da nova Capela do Bom Pastor, "La Rotonde".
Quando em 1848, morreu Eugène Cure, Apollonie mergulhada em profunda tristeza, ofereceu-se a Gailhac para fazer parte da comunidade das religiosas que este pensava fundar para governar o Bom Pastor.
Assim, na véspera do primeiro Domingo de Quaresma, 24 de Fevereiro de
1849, foi fundado o Instituto das Religiosas do Sagrado Coração de Maria,
que logo teve a aprovação e benção do Bispo da Diocese que passou a ser seu
protector. Apollonie Cure, Eulalie Vidal e Rosalie Gibbal, numa
pequena cerimónia presidida por Jean Gailhac, tomaram posse da direcção da obra
do Bom Pastor, com a determinação firme de se darem totalmente a Deus
e de, em cada dia, estarem atentas à sua vontade. A elas se juntaram
Rose Jeantet, Cécile Cambon e Marie Roques, todas elas já trabalhadoras
no Refúgio. Estas 6 Irmãs formaram a 1.ª Comunidade do Instituto do
Sagrado Coração de Maria.
O zelo do Padre Gailhac e da primeira comunidade não teve
limites. Até 1869, procedeu-se à consolidação das obras existentes: o Orfanato,
a Preservação, o Internato e o Dispensário, durante o generalato da Mère
Saint-Jean (Apollonie Cure). A boa preparação ministrada às educandas foi um
meio para melhor as ajudar a amar a Deus. Como lembrava Gailhac às Irmãs:
"A verdadeira finalidade do vosso trabalho e da vossa dedicação é fazer
Deus conhecido e amado, enraizá-lo de maneira inabalável nas pessoas que vos são
confiadas".
Gailhac foi sempre o confessor e o capelão da comunidade. Fazia conferências, preparava os retiros mensais e anuais, mantendo com todos os membros uma relação simples e informal mas também exigente.
A partir do final dos anos 60 do séc. XIX, o Padre Gailhac empenhou-se em expandir o Instituto do Sagrado Coração de Maria na Europa, sem no entanto ter êxito.
Quando por morte de Apollonie, a Madre Sainte-Croix foi eleita Superiora do Instituto, oficialmente a 3 de maio de 1869, Gailhac retomou, juntamente com esta, os esforços para expandir o Instituto para fora de França, o que conseguiu com a fundação de uma casa na Irlanda, à qual muitas outras se seguiram.
No verão de 1873, Gailhac visitou as fundações de Inglaterra e da Irlanda, para
verificar como estas comunidades reflectiam o espírito da Casa Mãe,
visto que, para ele, era a comunidade de Béziers o modelo de todas as
fundações.
Em final de Maio de 1874, o fundador deslocou-se a Roma para
agradecer pessoalmente a Pio IX o Decretum Laudis
concedido à congregação, e aí se encontrou com aquela a quem chamaria
"a nossa fundadora na América", Sarah Peter, uma senhora idosa e viúva de Ohio,
abrindo a porta para a criação de uma casa nos Estados Unidos (1877). Em
Outubro de 1876 celebrou-se o solene jubileu dos cinquenta anos de ordenação
sacerdotal de Gailhac. Todas as obras e associações fundadas por
gailhac estiveram representadas. O Padre Maymard afirmou, a propósito:
"A alegria e a felicidade irradiavam de todos os rostos e o próprio Gailhac
parecia rejuvenescer. Todos sentiam prazer em olhar para ele, que prometia ainda
uma longa e fecunda carreira".
Em Fevereiro de 1878 Gailhac viajou em visita às comunidades
portuguesas, mas não o acompanhou a Madre Sainte-Croix, que já doente,
morreria a 4 de setembro de 1878. Nessa ocasião Gailhac escreveu: "As
nossas queridas Irmãs falecidas... devem ser de grande conforto para nós. No céu
continuam a Servir-nos, como intercessoras diante de Deus. Aqui em baixo, a
memória dos seus grandes exemplos de virtude jamais se apagará e será para nós
um grande estímulo...".
Depois de uma vida cheia de entrega ao próximo e serviço a Deus,
Jean Gailhac morreu a 25 de Janeiro de 1890, em Béziers, no sul da França.