Ser professor é uma vocação. É o desejo de caminhar com o outro na maravilhosa descoberta daquela área científica que nos realiza, é querer participar na formação e no crescimento do outro e é acreditar que se pode contribuir para que o mundo seja melhor com a simplicidade dos gestos do nosso dia-a-dia: um sinal, uma palavra, um olhar.
Sonhei, um dia, ser professora, apaixonada pela área científica em que me especializei e pela relação com o outro, isto num tempo em que a profissão era vista de forma mais favorável pela sociedade, e não tive dúvidas. Arrisquei. E, em pouco tempo e em locais diferentes, descobri que muitas das minhas expectativas quanto ao que me movia eram mesmo tangíveis. Mas Deus colocou no meu caminho a possibilidade de ser professora num colégio do IRSCM. Aceitei o desafio que me foi lançado, primeiro por curiosidade e pela feliz primeira impressão. Depois, porque descobri bem dentro de mim que ali ia ser mais professora e ia ser mais feliz na minha vocação por vários motivos, de entre os quais destaco apenas alguns:
- Porque as irmãs sonham alto e veem mais longe.
- Porque os alunos têm sede de mais vida e nos desafiam.
- Porque todos têm lugar na família IRSCM, para que todos tenham vida.
- Porque os colegas partilham uma mesma matriz e isso nos compromete uns com os outros, como comunidade.
- E porque a mensagem do Pe Gailhac no que diz respeito à educação é clara, exigente, geradora de Vida: “Educar a infância é uma das maiores obras, mas é preciso trabalhar muito para que haja frutos. É preciso que o zelo seja sobrenatural, suave e forte, constante, persistente, criativo.” (GS/7/III/84/A. Vol. II, p. 452.)
Nas propostas de educação do IRSCM, o convite é este: uma educação em que o zelo seja sobrenatural, suave e forte, constante, persistente, criativo.
Palavras incontornáveis que se respiram nas comunidades educativas dos nossos colégios, onde, inspirados pelo fundador do Instituto, os professores descobrem que ser educador:
é ter um coração aberto (“Nunca admitamos ideias preconcebidas. Em qualquer pessoa há defeitos e qualidades. É necessário agir com serenidade.” (GS/8/VI/80/A. Vol. II, p. 149.);
é saber que somos exemplo (“Convençam-se de que os jovens ouvem com os olhos e não com os ouvidos. Quando lhes falam, os seus olhos estão fixos nos vossos. Estão a estudá-las. Se virem que as palavras estão de acordo com a vida, ouvem. Mas, se não houver coerência são surdos, não ouvem.” (GS/3/I/87/A. Vol. II, p. 548.);
é querer contribuir ativamente para o bem comum e ser agente de mudança (“As lições pouco aproveitam, se não forem precedidas da ação.” (GS/21/IX/76/A. Vol. I, p. 270.);
é saber que há muito mais a dar de nós do que apenas o que os manuais ditam (“Que a instrução não fique isolada. A ciência deve ser sempre acompanhada pela vida de piedade.” (GS/4/I/75/B. Vol. I, p. 217.),
é todos os dias procurar viver a coerência a que Gailhac nos chama - “Que as crianças vejam na prática aquilo que lhes dizem em palavras, pois elas ouvem mais pelos olhos do que pelos ouvidos. Tudo estará perdido se elas as virem fazer o contrário do que lhes dizem e ensinam. Nesse caso, não darão mais atenção. O que lhes fica na memória é apenas aquilo que viram fazer e praticar.” (GS/3/IX/80/A. Vol. II, p. 180.);
Nestes tempos em que paira o desânimo sobre muitos e a profissão parece estar doente, muitos professores continuam a perseverar na esperança de tornar o mundo melhor através da educação.
Os professores ao jeito de Gailhac sabem que assumem um papel vital e incontornável enquanto colaboradores diretos das irmãs na concretização do sonho do fundador do Instituto na construção de um mundo melhor, onde todos tenham vida.
Que todos os dias, e não apenas no dia 5 de outubro, em que se assinala o Dia Mundial do Professor, lembremos a riqueza das palavras abrangentes e desafiadoras do Pe. Gailhac: “A lição só é eficaz quando se faz o que se ensina.” (GS/26/ VI/80/A. Vol. II, p. 160.).
Ana Cristina Soares
Professora