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A QUE CHEIRAM AS FÉRIAS?

Gosto muito de ditados e provérbios. São modos de expressão que preservam a tradição oral e a sabedoria popular.

Não sei se “cheira a verão” será propriamente uma expressão popular. Talvez seja! Ou então é um slogan apropriado para uma gama de fragâncias e perfumes. A mim o verão cheira (e sabe) sempre a protetor solar, maresia, pinhal, citrinos, bolas de berlim, noites quentes e amigos!

Chega o verão e a casa enche-se, os colchões e a comida multiplicam-se. Uma confusão saudável e feliz instala-se! Volto a sentir o cheiro da maresia às oito da noite, num dia de praia que teima em não terminar e que já precisa de casaco! Inventam-se histórias e reinventam-se outras. Todos são muitos e ainda assim faltam alguns! Não há horários para nada! Nada sobra, nada falta!

As férias cheiram a amigos!

Os de todos os dias e os que chegam para viverem connosco estes dias maiores.
Os amigos cheiram a bem-estar psicoafetivo, tão necessário quanto impactante na nossa vida.

Abraham Maslow, psicólogo norte-americano, conhecido pela Teoria da Hierarquia das Necessidades Humanas e uma referência na Psicologia Humanista, na sua “Teoria da motivação humana", publicada em 1943 na revista Psychological Review, define cinco categorias de necessidades humanas: fisiológicas, segurança, afeto, estima e autorrealização. 

A teoria é representada por uma pirâmide. Na base encontram-se as necessidades diretamente relacionadas com a sobrevivência. Para progredir na hierarquia, é necessário satisfazer elementos primordiais como a fome, a sede, a respiração, o sono, por exemplo.
Seguem-se as necessidades de segurança e depois delas as necessidades de afeto e relacionamento, seguidas das necessidades de autoestima, confiança e respeito.

Atentemos nesta hierarquia e no que ela nos diz sobre as mais profundas necessidades do ser humano. Voltemos à sabedoria popular que nos aconselha a dar pão ao faminto e só depois falar do pão espiritual. 

Os amigos são uma necessidade básica e basilar da nossa vida. Precisamos deles como de pão para a boca! Quando o são (de facto), alimentam-nos os dias, seguram-nos, levantam-nos, acompanham-nos, fazem-nos, constroem-nos, dão-nos saúde! Há quem diga que são a família que escolhemos! 

D. José Tolentino de Mendonça define-os como “esses estranhos que nós amamos e nos amam. Olhamos para eles e são sempre adolescentes, assustados e sós (...) Um dia acordamos tristes da sua tristeza, pois o fortuito significado dos campos, explica por outras palavras aquilo que tornava os olhos incomparáveis.

Mas a impressão maior é a da alegria, de uma maneira que nem se consegue e por isso ténue, misteriosa: talvez seja assim todo o amor.”

Digam lá se não é uma magnífica maneira de dizer a amizade?!

Os amigos cheiram à nossa história pessoal e coletiva.

Uma história feita de noites e dias de verão, de outono também, de inverno a espreitar a primavera do ano.

Uma história feita de cumplicidades, de etapas de crescimento, de afastamentos e também de regressos, porque não fazemos todos as mesmas viagens! “É assim a vida”, diz o povo! 

As férias com amigos são um património afetivo, cultural, humano, transcendente até, que damos uns aos outros! Uma herança que enriquece os dias em que não estaremos em férias, nem teremos os amigos tão disponíveis. 

E quando elas passarem (as férias), e quando já não cheirar a verão, pousamos o olhar nas fotos, nos vídeos, nas publicações e encontramo-los lá (aos amigos), com os olhos raiados de sol nascente, os braços em redor dos nossos, os sorrisos rasgados a dizer a alegria do coração.

Luís Pedro de Sousa
Professor