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EDUCAR PARA A ESPERA

Corre na vida da escola uma pressa angustiante!
Uma pressa que tudo quer, tudo agita, tudo deseja, nada suporta!

No corredor das escolas, a pressa não devia entrar! Ao fazê-lo, mata a essência do ambiente que devia habitar a casa. Não devia entrar ali, como não devia entrar nas nossas vidas pessoais e familiares com a voracidade com que entra e que tantas vezes nós alimentamos, levando, arrastados pela mão, aqueles que nos foram confiados.

Educar é a mais bela tarefa de todas! Jean Gailhac dizia-nos que é a obra que produz frutos mais extensos e mais duradouros para o bem da Igreja e do mundo.

Hoje, suspiramos por uma maçã que saiba a maçã!

Trazemos na memória a recordação afetiva do sabor das coisas. Um sabor que conhecemos porque vivemos o tempo para plantar e para colher! Esperar a colheita… saborear a colheita!

Devíamos ser capazes de esperar, esperançosos e confiantes, pelos frutos saborosos.

Devíamos ser capazes de colocar o nosso olhar atento e atencioso no processo de plantar, regar, tratar e esperar ver crescer.

Na vida da escolas os fertilizantes não deviam entrar!

Voltemos a Gailhac! Era ele quem nos lembrava que “o grão que se semeia, a árvore que se planta, não dão fruto imediatamente. Têm que passar pelas diversas fases do seu crescimento normal até chegarem ao pleno desenvolvimento, atingirem a perfeição e produzirem flores e frutos”.

Gailhac desafia-nos à espera. Uma espera atenta e por isso contemplativa, mas uma espera igualmente atenciosa e por isso ativa.

Os tempos de espera fazem-nos ver o que ainda não tínhamos visto.

Os tempos de espera ajudam-nos a aprender e a aprendermo-nos!

Os tempos de espera são uma espécie de tempo In que produzem o movimento Out.

Acredito que a escola sente falta deste tempo. De ter esse tempo. Senão vejamos como proliferam nas nossas escolas abordagens, correntes e iniciativas que proporcionam momentos de interioridade, mindfulness ou yoga, por exemplo. O que nos quer dizer essa busca?

Não faltará quem veja na espera só e apenas a inutilidade, o desperdício, o improdutivo…

Não faltará, porque abunda quem nada sabe sobre o valor da espera na educação e na estruturação da personalidade!

A educação é um processo de enraizamento.

Demora tempo, bem o sabemos! Mas os frutos virão, esplendorosos, magníficos, a dar sentido a todas as podas e regas, a todas as estações de pousio. Hão-de saciar! Hão-de abundar para que todos tenham vida!

Não defendo para a escola uma espera de desalento, desistência, passividade ou inércia própria do ócio. Aproprio-me das palavras de Paulo Freire e dou-lhe um certo cunho pessoal para dizer que na escola devia imperar a espera do verbo esperançar.

Uma espera que se levanta, vai atrás, constrói, se junta com outros para fazer de outro modo.

Uma espera que, porque teve tempo para amadurecer, para se enraizar, para se relacionar, aprender ou descobrir, é capaz de construir!

Entrámos há poucos dias na Quaresma.

Assim, discreta e ao ciclo da própria natureza, vem dar-nos o tempo necessário para trabalhar em nós uma espera operante, resiliente, confiante!

Viremos o olhar para o interior e demoremo-nos ali!

Demo-nos este tempo.

Deixemo-nos enraizar.

Saboreemos a espera com o coração confiante!

Podemos o que houver a podar e reguemos as terras áridas da nossa existência. Sentemo-nos com outros nos pátios das nossas escolas, olhemo-nos, cuidemos uns dos outros sem pressa!

Detenhamo-nos frente a Ele e esperemos confiantes!

Os frutos virão! Hão-de saciar e saberão a pão.

Luís Pedro de Sousa
Professor