Remontou-me ao final da década de noventa. Recebo um convite para ir ver, de perto, um grupo de jovens mulheres a jogar futebol num campo de terra batida. O Grupo Desportivo da Valinha. Uma das primeiras equipas femininas da bela e histórica cidade onde nasceu Portugal.
A paixão imensa que nutria pelo futebol, muito pela influência dos meus irmãos, pois passávamos as tardes soalheiras de domingo a jogar à bola na eira da nossa casa, leva-me, rapidamente, a passar de espectadora a jogadora desta equipa. Para os mais curiosos, um dez puro. Um futuro promissor aproximava-se. Convites de diferentes clubes locais surgiram. A saída era inevitável.
Surge na altura, um clube inexpectável, de dimensão internacional, foi impossível resistir ao “seu mister” - Jesus, de seu nome.
Desde aí, muitos “campeonatos” têm sido ganhos com “muito amor à camisola”, disciplina, rigor, entrega, criatividade e alegria, mas, acima de tudo, com muito trabalho e colaboração conjunta de todos os membros e simpatizantes do clube - o Coração de Maria.
Este Coração de Maria que respeita e acolhe a diferença, a singularidade e os gostos de cada pessoa.
Que encoraja a cultivarmos uma consciência critica face à realidade social, económica, política e eclesial; e que nos permite expressar, com toda a liberdade, opinião sobre os mais diversos temas, como é, neste caso, o Campeonato Europeu de Futebol 2024.
Um evento que une milhões de pessoas, quebra barreiras sociais, políticas, religiosas e culturais, com sessenta e quatro anos de existência; realiza-se de quatro em quatro anos, começa hoje e prolonga-se até dia 14 de julho.
Este ano decorrerá na Alemanha, umas das seleções, a par com a Espanha, com mais títulos europeus ganhos. Diz a tradição futebolística que no final, a Alemanha ganha sempre! Esperamos que, este ano, haja uma exceção. A nossa seleção fez uma campanha de qualificação brilhante. Como dizem os entendidos, quase a roçar a perfeição: dez jogos, dez vitórias, 36 golos marcados e dois sofridos. Não é apontada como favorita nas Casas de Apostas, mas chega à Alemanha com o sonho de repetir a proeza de Paris de 2016: chegar à final, ganhar, erguer a Taça, trazê-la para Portugal. O resto já todos nós sabemos! Heróis do mar, nação valente….
Este é o sonho de mais de onze milhões de portugueses, em Portugal e espalhados por todo o mundo, pois ser português não é só viver em Portugal, é sentir-se identificado com a nossa matriz histórica e identitária onde quer que se esteja.
Ao longo do próximo mês, de coração sintonizado, seguiremos com paixão o percurso da nossa seleção.
O coração sintonizado da Alma Lusitana! Este povo singular, que tanto nos orgulha, marcado pelo Fado, pela Saudade, pela Música, pela Fé, pelo Futebol, bom Vinho e muito Sol; com espírito de aventura, situado no cantinho da Europa, pequeno na geografia, mas imenso em conquistas e enorme na inclusão de muitos povos.
Grande no acolhimento de Pepe e Matheus Nunes e na gestação de jovens jogadores cheios de talento e mestria, como Diogo Costa, António Silva, Gonçalo Inácio, João Neves e Francisco Conceição. Enorme na pura arte de muitos jogadores que, espalhados pelos principais clubes da Europa, todas as semanas encantam os seus adeptos com um futebol belo, distendido e consistente. Falamos de José Sá, Rui Patrício, Danilo Pereira, Diogo Dalot, João Cancelo, Nelson Semedo, Nuno Mendes, Ruben Dias, Bruno Fernandes, João Palhinha, Vitinha, Bernardo Silva, Diogo Jota, João Félix, Gonçalo Ramos, Pedro Neto e Rafael Leão. Não podemos ainda esquecer aqueles que nas “Arábias” tornam os estádios recintos de verdadeira magia, como o Rúben Neves e Cristiano Ronaldo.
Esta é a seleção que alia a experiência de Pepe, Cristiano Ronaldo e Rui Patrício à irreverência de Francisco Conceição e Rafael Leão, passando pela consistência dos centrais e pela magia e genialidade do futebol rendilhado dos médios criativos.
Estes são os vinte e seis eleitos! Esta é a escolha feita, difícil, no meu entender, pela abundância da técnica, da qualidade e da excelência de muitos outros jogadores que foram preteridos pelo nosso selecionador Roberto Martinez, referenciado, recentemente, pela revista América Sports como o Líder que Portugal precisava.
Já fizemos o aquecimento com os três jogos amigáveis de preparação. Agora é preciso entrarmos a ganhar no dia 18 contra a Chéquia, para alimentar o sonho e a esperança! Confiamos e acreditamos que é possível! Vamos até onde o empenho, o sacrifício, o querer e a sorte nos levarem!
Não sei se os santos se metem nestes campeonatos, mas consola-me imaginar que o nosso querido fundador Pe. Jean Gailhac, embora francês, esteve, em 2016, a torcer por nós e estará agora também.
Este é o Campeonato da Europa que pretende ser o mais sustentável de sempre a nível social e ambiental.
Como poderemos ver no site oficial do Euro 2024, a UEFA tem o propósito de REDUZIR o impacto no meio ambiente e na gestão dos resíduos; INVESTIR em projetos focados na mitigação de emissão de gases de carbono; PREVENIR E COMBATER todas as formas de discriminação; DEFENDER a atividade física e oferecer opções saudáveis de alimentos e bebidas nos estádios; PROMOVER a solidariedade nas sociedades alemã e europeia; ADOTAR normas de conduta transparente e responsáveis nas operações do evento e PARTILHAR conhecimento e boas práticas em debates contínuos com todos os intervenientes. Pretende ainda COOPERAR E INOVAR com as cidades anfitriãs, parceiras e outros intervenientes para formar um legado sustentável. A seleção nacional aderiu rapidamente a este desafio da UEFA e comprometeu-se a reduzir a pegada ecológica, trocando as viagens de avião pelo autocarro durante o torneio. Já entramos a ganhar no campeonato do cuidado da casa comum!
A visão e o compromisso da UEFA estão muito bem alinhados com o pensamento do Papa Francisco e com as metas #11, #12, #13, #15 e #16 dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. É muito bonito e animador constatar que estas preocupações com a sustentabilidade são transversais a todas as áreas.
O EURO 2024 será presenciado, visto e seguido por milhões de pessoas em todo o mundo. Que possa ser tido como exemplo de sã convivência, de amizade, de paz e de boas práticas futebolísticas entre jogadores, árbitros, dirigentes, adeptos e telespectadores. Que este evento possa deixar um legado forte e consistente em termos de sustentabilidade ambiental, social e cuidado com a Casa Comum.
À semelhança do Mundial de 2006, a Seleção Nacional terá o seu quartel-general em Marienfeld, local onde o Papa Bento XVI, na Missa de Envio da Jornada Mundial da Juventude, em 2005, referia que a hora de Jesus é a hora em que o Amor vence. Que, independentemente de ganharmos ou perdermos, vença o Amor a Portugal!
Todos estamos convocados para a Festa do Futebol!
Todos estamos convidados a Cuidar da Casa Comum!
Vamos Portugal! Komm chon Portugal!
Partilha a Paixão!
Ir. Conceição Pereira, rscm