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POR UMA EDUCAÇÃO PROFÉTICA E TRANSFORMADORA

Começo este artigo por recordar o venerável P. Jean Gailhac: “Cuidai os corações jovens. Serão agentes de mudança e de transformação.” e a palavra sábia do Papa Francisco, a propósito do Pacto Educativo Global: “Educar é sempre um ato de esperança que convida à coparticipação e à transformação”.

Reconheço a educação integral das gerações mais novas como oportunidade privilegiada de colaborar na mudança das mentalidades e transformação das estruturas da sociedade, de contribuirmos para a edificação de um futuro diferente, mais humanizado e assemelhado ao paradigma do Evangelho de Cristo. Era a convicção e esperança do P. Gailhac, também nossa e da Igreja no tempo atual.

Preparei esta intervenção, dando voz a alguns alunos, um de cada Colégio da Área de Portugal, escutando-os sobre algumas questões, tais como: O que é que eles reconhecem como diferenciador na nossa proposta educativa? Quais as experiências que eles destacam? Como é que essas experiências os transformam e os comprometem?

Quem educa sabe que o valor das experiências e projetos que possamos propor, depende do sentido e significado que transmitirem, da intencionalidade educativa que lhes está subjacente. Assim, partindo dos testemunhos que escutamos dos nossos alunos, desejo sublinhar:

A experiência de crescer e ser educada(o) numa cultura plural, de diversidade e inclusão onde se aprende a cuidar uns dos outros.

A interação com a diferença na comunidade e na sala de aula: alunos de diferentes nacionalidades e expressões religiosas; diferentes níveis socioeconómicos, diferentes níveis de aprendizagem.

Na convivência com a realidade diversa e plural, crianças e jovens constroem a leitura e convicção de ser possível e transformador, apesar de ser difícil: aprender a respeitar e a interagir construtivamente com as diferenças. É possível e transformador experimentar uma cultura de cuidado, aprender a empatia, a cuidar uns dos outros e da Casa comum. Participar em projetos que estimulam a arte do diálogo, de sentir, sonhar e pensar juntos em prol do bem comum e da Paz.

No contexto mundial, onde aumentam as tendências xenófobas, afirmamos e anunciamos o valor do mundo diverso e plural. A uniformidade asfixia, o medo destrói. Acreditamos na Comunidade Humana como um “NÓS” que habita a Casa Comum.

Cultivamos o valor da Comunidade como “unidade na diversidade” à imagem do poliedro, traço precioso da nossa espiritualidade e tão marcante na visão do P. Francisco (cf FT). Somos para TODOS – para que TODOS tenham Vida.

Esta vivência é transformadora e relevante. É um sinal profético poderoso no tempo atual.

A experiência de crescer com uma educação integral, numa cultura de rigor, exigência e qualidade.

É interessante escutarmos como os nossos jovens valorizam o facto de serem desafiados a aprendizagens sólidas, à construção do saber e do conhecimento. Desafiados a desenvolver múltiplas inteligências e competências, à proatividade, à participação em projetos diferenciadores que os capacitam para a intervenção e cidadania global.

Reconhecem significado e sentido no trabalho e esforço académico. Valorizam o impacto transformador na experiencia de ser agente ativo do seu próprio desenvolvimento, ser desafiado à evolução contínua a progredir na melhor versão de si mesmo. Agradecem o estímulo e realização pessoal em desenvolver competências diversificadas para cooperar e se integrar positivamente a nível local e no mundo global. Percebem a intencionalidade ética em viver o desafio de evolução e superação, não como competitividade, mas como expressão de zelo e corresponsabilidade: ser melhor para melhor servir os outros, para que todos tenham vida.

Alimentamos a Esperança de que os nossos alunos se tornem pessoas adultas íntegras, capacitadas e bem formadas para integrar o tecido social com responsabilidades de liderança. Esperamos a sua participação ativa e competente, intervindo na evolução da sociedade em diversas áreas do saber, das artes e literaturas, nas ciências e tecnologias. Desejamos que a sua participação ativa irradie os valores do Evangelho e da nossa espiritualidade.

Com esta cultura, estamos a oferecer ao mundo um sinal com potencial profético: o conhecimento, a ciência e a tecnologia, a competência são meios importantes de contribuir na evolução da humanidade. Podem e devem ser usados em corresponsabilidade, ao serviço do bem comum, para promover a vida e um mundo mais humanizado.  A competição, a ambição do poder e do prestigio destroem; a colaboração, a cooperação e o serviço constroem o mundo.

A experiência de crescer e ser educada(o) numa cultura de interioridade, ser estimulada(o) ao autoconhecimento, ao crescimento na fé, do encontro, serviço, voluntariado.

Não há dúvidas acerca da importância e impacto destas propostas nos nossos jovens alunos. Captam o estimulo e o significado de “sair de si”, para ir ao encontro de mundos diferentes do seu; tornar-se próxima(o); a importância de ver, escutar e relacionar-se com pessoas em situação de fragilidade e pobreza…valorizar a gratuidade, partilhar tempo e atenção; oferecer presença, serviço, cuidado; partilhar talentos, capacidades e bens. Educar a sensibilidade e a relação com os mais desprotegidos e reconhecer isso como dimensão importante no seu desenvolvimento como pessoa. Perceber que a Fé cristã – o encontro com Jesus Cristo – nos remete para o encontro com os outros, e se expressa no serviço, no zelo. Esta experiência provoca, necessariamente, o questionamento sobre as causas de pobreza e da injustiça, e para o entendimento do compromisso do Instituto na promoção da justiça, da paz e integridade da criação.

Empenharmo-nos em educar pessoas de coração compassivo e comprometido é um sinal profético eloquente e relevante no nosso mundo, em que a doença da indiferença, do individualismo e descarte dos mais frágeis alastra, contagia comportamentos e mundividências. Pessoas com um coração compassivo, capazes de olhar para além das comodidades e seguranças pessoais, capazes de se deixar tocar pela dor e pobreza dos outros, que acreditam na força da gratuidade e da presença …

É, certamente, sinal profético ajudar os nossos jovens a terem coragem de escolher estilos e vida simples, por causa da sustentabilidade, para que os recursos sejam bem distribuídos por todos. É sinal profético ajudar os nossos jovens a acreditar na importância da sua participação, da colaboração com outros, juntando esforços na irradicação/transformação das estruturas reprodutoras de pobreza.

Inspirados na matriz e legado que recebemos, penso que a nossa proposta educativa é particularmente transformadora e profética ao conjugarmos, intencionalmente, três dimensões, que se articulam e complementam: Compaixão - Competência - Compromisso.

Sonhamos novos céus e nova terra, onde todos tenham lugar na nossa Casa Comum e tenham vida em abundância (cf. Cap. Geral 2019). Educamos com este horizonte. Apontamos nesta direção, enraizados na herança que recebemos, em diálogo com os sinais dos tempos, melhor dizendo, os sinais do Espírito no nosso tempo.

Assim alinhados, a nossa missão educativa dará frutos a seu tempo. Se, por ventura, não forem percetíveis, é sempre bom fazer memória da esperança de transformação profética que recebemos do P. Gailhac:

"A Educação é uma das obras que mais importa ao bem da Igreja.
Aquela que produz frutos mais certos, mais extensos e duradouros.”

Ir. M.ª Teresa Nogueira, rscm
Intervenção no Encontro da Rede Global de Escolas do Sagrado Coração de Maria
Brasil, Rio de Janeiro
- julho 2024