Ele não se demora a descrever aqueles Magos, nem se preocupa em localizá-los, dizendo de onde é que eles vêm, como é que descobriram que aquela estrela seria a que os conduziria ali. Porque quer fazê-los chegar rapidamente a Jesus e, de certa maneira, quer que nos identifiquemos com eles – na forma como o nosso caminho para Jesus se inicia. E, para cada um esse caminho começou de uma maneira: uns conheceram Jesus logo no seio familiar; outros foram descobrindo Jesus nas várias etapas da vida; uns permaneceram sempre junto d’Ele, outros afastaram-se e depois sentiram novamente esse chamamento.
A grande mensagem da Epifania é a universalidade.
Esta luz que vem à nossa vida e brilha para todos, brilha sobre toda a humanidade independentemente da latitude ou da longitude e do momento da história em que estão. A luz de Jesus brilha para aqueles que eram antes de Jesus e brilha para aqueles que são depois de Jesus. É uma luz que brilha sobre a nossa vida.
E essa é a mensagem que a Igreja é chamada a anunciar a todos. De facto, Jesus quer que todas as pessoas conheçam o Seu amor através dos gestos que os cristãos são capazes de realizar no mundo. É tão belo vermos como a Igreja, em tantas iniciativas, se vai desdobrando em amor junto dos mais frágeis, dos mais pobres e dos menos amados. Porque são esses a quem Jesus quer amar mais, quer chegar mais rapidamente, quer abranger mais totalmente.
Quem são estes Magos que aparecem no texto de Mateus, de quem ainda não tínhamos falado no Evangelho e de quem não falaremos mais? Certamente, são homens sábios que procuravam a verdade através do saber nas suas múltiplas formas. Por vezes, são identificados como sábios da Babilónia, que tinha uma cultura muito desenvolvida, nomeadamente, a astronomia. Escreviam numas placas de argila, os cálculos que nos permitem perceber o quanto já sabiam acerca dessa e doutras áreas científicas. E, actualmente, os estudiosos tentam identificar que fenómeno terá sido aquele que terá conduzido os Magos.
Pode ser que se venha a desvendar tudo, mas o mais belo da história não é isso. O mais belo da história é que estes homens, que nunca tinham ouvido falar de Jesus – mas conheciam as profecias porque souberam identificar aquela estrela como a que correspondia a alguma profecia do Antigo Testamento, talvez a célebre profecia de Balaão -, tendo já contemplado o céu muitas vezes, quando veem aquela estrela, percebem que o brilho que emana é diferente. Que vai ao encontro de uma sede profunda de verdade, de justiça e de sentido que existia nos seus corações.
É essa sede que os faz caminhar, que os faz deixar aquele lugar seguro onde tinham estatuto e conforto, para se aventurarem no incerto, atrás de uma esperança que alimentava o seu existir. Não sabiam que iam encontrar um Menino numas palhinhas, nem onde a estrela os ia conduzir. Prova disso é que o primeiro lugar a que se dirigiram foi o palácio de Herodes, o melhor lugar para o nascimento de um rei. Herodes faz-se desentendido: “vão lá investigar isso, porque também eu quero ir adorar o Menino”.
Quando os Magos chegaram ao presépio foram inundados de tal maneira por aquela luz - o Menino -, que isso transformou as suas vidas. Perceberam que não precisavam de procurar mais – a verdade que buscavam, o sentido último que havia de dar razão a tudo estava ali!
E não podiam regressar pelo mesmo caminho. Teria de ser outro, que não passasse por Herodes. Voltam às suas terras, mas não para serem os mesmos. Não é possível encontrar Jesus de uma maneira tão decisiva e depois voltarmos iguais. Quando o encontro com Jesus é verdadeiro, ele transforma-nos!
Nos Magos, está representada toda a Humanidade.
Há no coração de todos um desejo de ser, de descobrir a chave da existência, do porquê de estarmos neste mundo, do para que é que o Senhor conta connosco... E sabemos que isso está em Jesus, que a resposta está na contemplação do Menino. Mas não está desvendada, como quem escreve numa placa de argila uma receita que depois se aplica a todos. Está envolvida num mistério. O Senhor não nos mostra todos os passos do caminho, como faz o GPS permitindo saber todas as curvas por onde vamos passar. Quando nos chama para alguma coisa, o Senhor dá-nos estrelas para seguirmos. E a beleza está aí: em nos deixarmos seduzir por essas estrelas. Que a nossa vida seja uma constante busca da luz que Deus quer trazer à nossa existência, a tudo o que somos e fazemos.
Os Magos têm muito a ensinar-nos e podem ser construtores de uma identidade para nós.
A de sermos gente que busca, que nunca deixa de ser peregrina, de estar a caminho para Jesus, que quer sempre aprofundar e ir mais longe. De sermos uma Igreja que é capaz de acolher tanto os que já caminharam muito e estão próximos de chegar ao presépio, como os que ainda vêm como os Magos, no início do seu caminho, a tactear, e que precisam de nós, como estrelas, a conduzi-los.
Pe. Hugo Gonçalves