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JUNTOS E EM REDE

O despertador, nesse dia, tocou pouco depois das 5 da manhã…

Anunciava o começo de uma conferência internacional promovida pelo Dicastério para a Comunicação, no Vaticano, que iniciava com um encontro especial: com o Papa Francisco, na Sala Clementina do Palácio Apostólico. Como sempre acontece nestas ocasiões, é necessário chegar cedo, tomar o lugar que nos é dado e... esperar pela entrada do Papa. Depois, estar bem desperto para ouvir Francisco e esperar que algo de inesperado aconteça! E assim foi: no fim de mensagens desafiadoras para os comunicadores, o Papa quis cumprimentar todos os presentes e, na minha vez, foi possível dirigir-lhe umas palavras, falar da JMJ Lisboa 2023 e oferecer-lhe um exemplar do livro “Memórias de uma Jornada Belíssima”.

Entre tantas audiências que acontecem nessa sala do Palácio Apostólico, esta teria sido mais uma... Não fosse ter acontecido numa ocasião muito particular desde pontificado, a 15 dias, pouco mais, do Papa Francisco ter sido internado e iniciar uma longa recuperação de uma pneumonia. Mas não só: a partir das 7 e pouco da manhã, depois do Papa Francisco entrar na Sala Clementina, proferiu todo o discurso e não dispensou muitos comentários, sempre extremamente oportunos, que frequentemente faz aos textos. E mais: deixou-nos uma lição sobre a forma de anunciar que, neste Jubileu 2025 e no contexto atual, tem de ter no horizonte a esperança.

O problema que se coloca hoje aos comunicadores.

O problema que se coloca hoje aos comunicadores, nomeadamente aos comunicadores que se distanciam de lógicas comerciais e balizam o seu trabalho por uma informação de verdade ou um entretenimento que salvaguarde o bem de todos, foi formulado, nessa ocasião, pelo próprio Papa: “como semear esperança no meio de tanto desespero que nos toca e interpela? Como curar o vírus da divisão, que ameaça até as nossas comunidades? A nossa comunicação é acompanhada pela oração? Ou acabamos por comunicar a Igreja, adotando somente as regras do marketing empresarial?”.

Depois, surgiram as respostas, as pistas para comunicadores, nomeadamente os que assumem a necessidade de colocar na “pauta” das notícias histórias do Evangelho hoje, qual boa notícia que foi contagiando gerações sucessivas, ao longo de dois milénios.

As propostas de Francisco

As propostas do Papa Francisco chegavam no dia seguinte à celebração jubilar, a primeira do Ano Santo, que era dedicada ao mundo da comunicação, onde o Papa valorizou o trabalho dos jornalistas e pediu a libertação de todos os que estão presos por querer informar. “O vosso trabalho é um trabalho que constrói: constrói a sociedade, constrói a Igreja, faz avançar todos, desde que seja verdadeiro”, disse Francisco a milhares de comunicadores de 138 países.

Neste Jubileu, jornalistas de todo o mundo, os agentes da comunicação na Igreja Católica em tantas latitudes deixaram de lado a reportagem ou a necessidade de passar mensagens aos media para viver o Ano Santo, experimentar o sacramento da misericórdia, passar a Porta Santa da Basílica de São Pedro e celebrar a mesma fé ao lado de rostos conhecidos e sobretudo desconhecidos, mas irmãos. Foram dias onde se sentiu a necessidade de ouvir mais o Papa, mas o agravar do seu estado de saúde não permitiu. Foram também ocasiões para confirmar que é possível viver o Jubileu sem o Papa presente fisicamente, nessa atitude fundamental de ser peregrino num Ano Jubilar, que convida a recomeçar a partir do essencial, a recentrar vidas e projetos pessoais ou profissionais no único propósito que a todos deve convocar: o amor!

De facto, os dias do Jubileu, em Roma, entre a ansiedade e a felicidade que os dias sempre transportam, sobretudo quando vividos em circunstâncias novas, convocaram para o único encontro capaz de transformar e renovar histórias de vida, o encontro com Cristo, testemunho por excelência desse amor que a todos convoca. Em Jesus, um amor sem limites, que O conduziu até à entrega plena, doação total e morte numa cruz para revelar, lá do alto, que o peso do sofrimento transformador é sempre superado pela certeza do bem que daí decorre. E essa é a certeza a ser proclamada naquele tempo, como neste tempo, por quem segue o Mestre, quem o comunica em qualquer tempo. Porque, “se eles se calarem, gritarão as pedras”, indica o texto do Evangelho na narração da entrada de Jesus em Jerusalém, o primeiro passo de um caminho que passou pela cruz.

Como fazer? São preciosas, nesta e em todas as ocasiões, as indicações do Papa.

Nesse discurso dirigido aos responsáveis pela comunicação na Igreja Católica em todo o mundo, Francisco sugeriu duas atitudes traduzidas por duas palavras: “Juntos e rede”.

“Juntos e em rede”? Fala-se, em tantas ocasiões, em parcerias, em sinergias, em trabalho conjunto, mas quase sempre com escassos resultados. Há novas formas para o concretizar? O Papa diz que sim!

“Só juntos podemos comunicar a beleza que encontramos: não porque somos competentes, não porque dispomos de mais recursos, mas porque nos amamos uns aos outros”. Ah...! Não estão em causa recursos, estratégias, conhecimentos, tecnologias... Mas a capacidade de amar, de nos amarmos uns aos outros.

Ok! E depois?

“Olhemos mais além, além de nós próprios. Nada está perdido; pode-se recomeçar sempre, confiando uns nos outros e todos juntos em Deus, este é o segredo da nossa força comunicativa. Criar rede! Ser rede! Em vez de confiar nas vozes estéreis da autopromoção, na celebração das nossas iniciativas, pensemos em como construir juntos as narrações da nossa esperança!” Certo...

Muito obrigado, Papa Francisco! Não será necessário que as pedras falem se comunicadores agirem juntos e em rede!

Paulo Rocha, Jornalista
Foto: Vatican Media