Neste XXXIII Dia Mundial do Doente recorremos às palavras de Eugénio de Andrade no poema Adeus. Tomemos o sentimento do poeta como ponto de partida, embora admitindo que o descontextualizámos, uma vez que o mote do poema era o amor e os seus desvarios.
Fixemo-nos nas palavras, apesar de as admitirmos gastas. Usemo-las para apontar as atitudes!
O Santo Padre, para assinalar este dia, escolheu como tema: «A esperança não engana» (Rm 5, 5) e fortalece-nos nas tribulações. A esperança! Sempre a esperança! Francisco não desiste dela como não desiste de afirmar a misericórdia de Deus. “Grita-as” a torto e a direito e na sua voz as palavras não nos parecem gastas. Porque será?
Porque a esperança é a última coisa a morrer, porque não engana... talvez! Mas não só!
Estou convicto que o faz porque Deus habita a esperança!
Deus habita cada gesto de esperança, transforma cada palavra gasta numa palavra nova porque a encarna! Recordemo-nos que o “Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 14)
Na Mensagem para este Dia Mundial do Doente, Francisco convida-nos a determo-nos “a refletir sobre a presença de Deus junto dos que sofrem, particularmente nos três aspetos que a caracterizam: o encontro, o dom e a partilha.”
Façamo-lo então, ainda que por breves instantes.
O encontro que transforma.
“A doença torna-se então a oportunidade para um encontro que nos transforma, a descoberta de uma rocha firme na qual descobrimos que podemos ancorar-nos para enfrentar as tempestades da vida: uma experiência que, mesmo no sacrifício, nos torna mais fortes, porque mais conscientes de não estarmos sós. Por isso se diz que a dor traz sempre consigo um mistério de salvação, porque nos faz experimentar, de forma próxima e real, a consolação que vem de Deus (...)” *
O dom da esperança.
“Efetivamente, em nenhuma outra ocasião como no sofrimento, nos damos conta que toda a esperança vem do Senhor e que, assim sendo, é antes de mais um dom a acolher e a cultivar (...)” *
A beleza da partilha.
“Os lugares onde se sofre são frequentemente espaços de partilha, nos quais nos enriquecemos uns aos outros. Quantas vezes se aprende a esperar à cabeceira de um doente! Quantas vezes se aprende a crer ao lado de quem sofre! Quantas vezes descobrimos o amor inclinando-nos sobre quem tem necessidades! Ou seja, apercebemo-nos de que todos juntos somos “anjos” de esperança, mensageiros de Deus, uns para os outros: doentes, médicos, enfermeiros, familiares, amigos, sacerdotes, religiosos e religiosas. E isto, onde quer que estejamos: nas famílias, nos ambulatórios, nas unidades de cuidados, nos hospitais e nas clínicas.” *
Estes encontros são feitos de palavras novas, vivas porque habitadas de graça e de verdade, ainda que ditas no meio da dor e do sofrimento. Não são palavras gastas!
“É importante saber captar a beleza e o alcance destes encontros de graça, e aprender a anotá-los na alma para não os esquecermos: guardar no coração o sorriso amável de um profissional de saúde, o olhar agradecido e confiante de um doente, o rosto compreensivo e atencioso de um médico ou de um voluntário, o rosto expetante e trepidante de um cônjuge, de um filho, de um neto, de um querido amigo. Todos eles são raios de luz que é preciso valorizar e que, mesmo durante a escuridão das provações, não só dão força, mas dão o verdadeiro sabor da vida, no amor e na proximidade (cf. Lc 10, 25-37).” *
Inspirados pelo desafio, sincronizemo-nos em caridade! (Para além das palavras gastas).
* Mensagem de Sua Santidade Papa Francisco para o XXXIII Dia Mundial do Doente.
Luís Pedro de Sousa
Professor