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REAVIVAR A ESPERANÇA

“A esperança não desilude”, disse o Papa Francisco ao abrir a Porta Santa e dar início ao Ano Jubilar da Esperança.

Certamente foi a esperança que levou Maria Madalena ao túmulo de Jesus, logo de madrugada, como narra o texto sagrado (Jo 20,1-9). Se não fosse assim, o que ainda poderia ter movido até ali aquela mulher, depois de tudo o que havia presenciado, após ter visto o Senhor sendo morto diante dos seus olhos? Com efeito, havia algo no seu coração que, mesmo inconscientemente, a fazia acreditar que o sepulcro não era o fim.

Chegando ao lugar ela constatou, com estranheza, que algo havia mudado naquele cenário desolador. A pedra estava removida. Contudo, a certeza da morte assombrava-a. Não conseguiu, a princípio, reconhecer aquele sinal como uma evidência da ressurreição. Onde estaria, então, a tal esperança que a conduzira até ali, a mesma que a levou a seguir fielmente àquele improvável Messias, durante todo o seu ministério até a cruz? Este paradoxo vivenciado por Maria talvez aponte para algo interessante. A esperança pode estar implícita dentro de uma pessoa sem que ela, necessariamente, se dê conta. Ou seja, um coração esperançoso é capaz de mover-se no rumo de uma almejada certeza, mesmo que racionalmente não veja possibilidade alguma de vê-la concretizada. Isso porque a esperança nem sempre se ancora no que é visível.

No que se assenta, então, a esperança?

Paulo, na carta aos hebreus, dá-nos a chave para responder a essa questão, ao afirmar que “a fé é a firme garantia do que se espera, a prova do que não se vê” (Hb 11, 1). De facto, uma vez que nem sempre nos é possível encontrar justificativas plausíveis para nos mantermos esperançosos em boa parte dos factos concretos da vida, o alicerce da esperança precisa mesmo ser algo muito mais profundo do que aquilo que temos diante dos olhos. Voltemos a Maria Madalena. Como vimos, a visão da pedra removida no túmulo de Jesus não foi suficiente para fazê-la concluir que Ele havia ressuscitado. Somente mais tarde, como se vê na continuidade do texto sagrado, é que os seus olhos se abriram para essa realidade, a partir do reencontro com Ele.

Por outro lado, é bem verdade que elementos visíveis podem ajudar a despertar a esperança adormecida, desde que interpretados pelos olhos da fé. Tomemos o exemplo de Pedro e do “discípulo amado”, presumivelmente João, que correram para o túmulo logo que Maria lhes notificou a respeito do “desaparecimento” do corpo de Jesus. Entre a excitação e o possível desespero, os dois discípulos também avistaram sinais. O sepulcro, de facto, estava vazio, as faixas e os panos que haviam sido usados como sudário jaziam à parte e, diferentemente de Maria Madalena, eles não viram Jesus. Porém, creram na ressurreição! Racionalmente falando esses sinais, por si, não seriam uma prova segura de que o Senhor havia ressuscitado, mas através deles Pedro e “o discípulo” puderam aceder ao que estava soterrado nos seus corações. Por outras palavras, tais elementos palpáveis ajudaram-nos a recordar as escrituras, que prenunciavam que Jesus ressuscitaria. De qualquer forma, essa conclusão só lhes foi possível por causa da fé. A fé que resistiu ao terrível evento da crucifixão do Mestre agora reacendeu-lhes a esperança, antes sufocada pela desilusão e pela tristeza.

A fé reacendeu-lhes a esperança

A experiência dos três discípulos no maravilhoso Domingo da Ressurreição, traz-nos valiosas lições para nossa própria vivência da fé em Jesus ressuscitado hoje. Como cristãos, somos também habitados por essa mesma esperança, ainda que hesitante, mas que continua a levar-nos às igrejas e a rezar: “Creio”. Urge, porém, resgatar o seu autêntico sentido, ou seja, a certeza de que Jesus vive! Esta é a convicção que deve alimentar a nossa fé e manter-nos firmes na esperança, mesmo quando as crises que enfrentamos ou presenciamos nos enchem o coração de entulhos. Tal como dizia o padre Gailhac, “tudo começa pela fé. É Deus quem a dá. Importa remover os obstáculos, porque Ele nada quer fazer em nós, sem a nossa colaboração.”

Somos os “discípulos amados" de hoje, chamados a crer nos pequenos sinais quotidianos de ressurreição que, sem a ótica da fé, poderiam passar-nos despercebidos ou parecerem-nos insuficientes sob o limitado crivo da razão humana. Uma vez que a verdadeira fé brota de uma experiência pessoal com Jesus, ou de um reencontro com Ele, é preciso que nessa Páscoa, para além dos belíssimos ritos e tradições da Igreja, desfrutemos da Sua presença viva e amorosa, fortalecendo com Ele o nosso relacionamento e permitindo que nos restitua a esperança, por vezes abalada pelas cruzes do caminho.

Ir. Rhânella Oliveira, rscm