O último encontro do Papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude foi com voluntários. Sob um calor tórrido em Lisboa e depois de dias de trabalho e entrega sem medida, houve um jovem que se abeirou do microfone e, que, dirigindo-se ao Papa, lhe disse: “Quero ser santo!”
Disse-o com convicção, em voz alta, emocionado, feliz, agradecido pelo seu caminho!
A 2 de dezembro de 1881, em Béziers, dirigindo-se por carta a uma irmã, o Pe. Gailhac escreveu: “tenho apenas uma ambição: tornar-me santo e nada negligenciar para conduzir à santidade aqueles que Ele me confiou”.
Disse-o com humildade, paixão, entrega, querendo o bem segundo Deus!
O desejo de Deus no coração humano é intemporal e sem fronteiras!
Que tenha crescido em Gailhac esta ambição parecer-nos-á, porventura, normal. Olhamo-la à luz da história, do contexto, da sua obra! Que esta ambição seja gritada nos dias de hoje em alta voz e perante milhares de outros jovens e das televisões parecer-nos-á, porventura, marginal! Provocou… ecoou, ainda ecoa!
A 1 de novembro, a Igreja vive a Solenidade de Todos os Santos. O Papa Francisco, nas palavras que dirigiu aos presentes na Praça de S. Pedro neste dia, disse que “a santidade é um dom e um caminho”.
Somos todos “candidatos” ao dom!
A designação é inspiradora, senão vejamos: não o dia de um santo, mas de todos, como que a mostrar-nos o imenso “capital” de homens e mulheres que, ao longo da história da igreja e do mundo, têm sido sinal. Não o dia de um santo, mas de todos, como que a relembra-nos que Deus chama a cada um pelo nome. Chama-nos porque nos ama! Chama-nos na realidade concreta da nossa vida.
Voltemos aqueles dias maiores da JMJ e ainda conseguiremos ouvir a voz do querido Papa: “Amigos, não estais aqui por acaso. O Senhor chamou-vos, não só estes dias, mas desde o início dos vossos dias. Sim, Ele chamou-vos pelo nome. ‘Chamados pelo nome’: tentai imaginar estas três palavras escritas em letras grandes e, em seguida, pensai que estão escritas dentro de vós, nos vossos corações, como que formando o título da vossa vida”.
É, pois, larga e inclusiva esta Solenidade da Igreja!
Quem seremos se deixarmos crescer o dom que Deus nos dá?
Somos todos convidados para o caminho!
Ouçamos novamente Francisco: “Os santos não são heróis inalcançáveis ou distantes, mas pessoas como nós, nossos amigos, cujo ponto de partida é o mesmo dom que recebemos”.
O mundo precisa tanto de santos! Uma santidade que não carece de uma roupa especial ou um lugar para existir. O mundo precisa de uma santidade vivida no concreto dos dias, nas escolhas que se fazem, no modo como se olham os outros, no testemunho como se encara o sofrimento, na forma como se partilha a alegria, como se é grato! Gestos pequenos, mas resilientes e constantes em favor do bem comum. São sinais para a Igreja e para o mundo.
Neste caminho, é preciso subir a montanha até ao cume! Quão longe iremos e quantos levaremos connosco? Gailhac, de uma forma breve, mas muito profunda, expressava o imenso capital do sinal que podemos ser uns para os outros. “Santos fazem santos”, dizia-nos.
Que vista magnífica nos espera!
Ousemos acreditar em nós, na nossa humanidade como na nossa santidade. Neste caminho, o amor ao próximo é a medida do amor que se tem a Deus
Não teremos todos um santo com o nosso nome, mas temos um dia de todos nós!
Santos?! Sim! N’Ele e por Ele para que todos tenham vida!
Luís Pedro de Sousa
Professor