Menu Fechar

OS SINAIS DE FRANCISCO

Morrem-nos as palavras! Apetece-nos o silêncio dos grandes momentos!

Como se a metáfora não pudesse ser mais real. Nesta manhã a seguir à Páscoa, quais discípulos apressados, corremos os dedos pelo nosso feed à procura dele e já não o encontramos!

Morreu-nos Francisco! Não morreu... morreu-nos porque os nossos não morrem, morrem-nos! E é esse o sentimento: morreu-nos um dos nossos! Ficam-nos os sinais que nos deixou para o caminho!

Francisco era um Papa de sinais!

De cabeça baixa pediu que rezemos por ele, no balcão da Basílica de S. Pedro, no dia em que se apresentou ao mundo como sucessor de Pedro. O que pensaria e rezaria Francisco naquele momento? Eleito Papa, com um Papa vivo que abdicava porque não tinha forças para uma Igreja autocentrada, protecionista, lobista, elitista. Nas suas palavras uma igreja “masculinizada”. 

Perante isso, Francisco desde cedo foi respondendo com sinais.  

Lembramo-nos do nome que escolheu? Do transporte que usava, dos seus sapatos pretos, da carteira a sair do bolso para pagar, dos telefonemas que fazia a quem lhe escrevia? Lembramo-nos do quarto regular que ocupou na casa de Santa Marta, abdicando dos aposentos papais? 

Lembramo-nos das mulheres que foi chamando à Cúria Romana? Francisco foi claro: “Não há razões que impeçam as mulheres de assumir papéis de liderança na Igreja: não poderá parar aquilo que vem do Espírito Santo”. 

Lembramo-nos da insistência na sinodalidade? “Quando alguém me pergunta se estamos prontos para um novo Concílio, um Vaticano III, respondo que não só não estamos como ainda precisamos de implementar plenamente o Vaticano II. E também de varrer, ainda mais a fundo, a cultura de corte, na Cúria e em toda a parte.”*  

Lembramo-nos das viagens que escolheu fazer em primeiro lugar, dos pés que lavou e beijou, da sua paixão por uma Igreja em saída para as periferias geográficas como humanas. “Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e suja por ter saído à rua, a uma Igreja asfixiada, doente pela clausura e pela comodidade de agarrar-se às próprias seguranças.”* 

Lembramo-nos da sua insistência na Misericórdia de Deus, sempre! Deus perdoa sempre, perdoa tudo. Não se cansava de repetir.  

Lembramo-nos do que escrevia e de como escrevia? Como conseguia aquela simbiose entre profundidade e simplicidade numa linguagem de todos e para todos, tantas vezes criticada e vista como “novela” por quem acha que um Papa tem de ser “difícil de ler”. 

Lembramo-nos do rosto feliz entre os seus e, tantas vezes, fechado e austero perante as visitas de cortesia do poder? Lembramo-nos da sua cruzada contra os abusos? “Os abusadores são responsáveis, obviamente, mas um bispo que sabe e não faz nada também é responsável. Encobrir é acrescentar vergonha à vergonha.”* 

Lembramo-nos do grito que começou na sua voz e se ampliou com a nossa na Colina do Encontro durante Jornada Mundial da Juventude de 2023: todos, todos, todos! Não é slogan. É Evangelho! 

Que felicidade que esse grito claro, determinado, pensado e esperançado tenha sido dado ao mundo a partir de Lisboa! “Na Igreja, são todos convidados, mesmo as pessoas divorciadas, mesmo as pessoas homossexuais, mesmo as pessoas transexuais.”*  

Em Lisboa disse-nos que “o único momento em que devemos olhar alguém de cima para baixo é para o ajudar a levantar.” 

A boca de Francisco falava da abundância do seu coração.

Lembramo-nos da esperança? Deixou-nos na manhã a seguir à Páscoa, num ano que dedicou à esperança, recordando-nos que na vida somos peregrinos! Era assim que ele se sentia: “a Igreja seguirá em frente, na sua história eu sou apenas um passo”.* 

Francisco era um Papa de sinais para o mundo. Não era cosmética! 

Na Mensagem Urbi et Orbi, da manhã deste Domingo de Páscoa, Francisco, pela voz do Mons. Diego Ravelli, mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias, deixou-nos um último sinal ao falar-nos das “armas da paz”, desejando que “o princípio da humanidade nunca deixe de ser o eixo do nosso agir quotidiano.“ 

Honremos Francisco! Como discípulos apressados, corramos ao interior de cada um de nós. Encontremo-nos lá com o sepulcro vazio e que esse encontro faça o amor vencer o ódio na igreja e no mundo! 

Boa passagem querido Francisco. 

*Esperança, Autobiografia do Papa Francisco

Luís Pedro de Sousa