“Nós, pobres instrumentos, semeamos, plantamos, regamos, mas só Deus dá o crescimento e os frutos. É necessariamente assim porque só Deus é o princípio de todo o bem.”
GS/28/VII/72/A*
A primavera
É com grande nostalgia que recordo a magnífica e majestosa imagem que, ano após ano, se repetia ainda dentro do inverno, anunciando a chegada da primavera: pelas vidraças da sala, em cada manhã, enquanto aguardava a chegada dos grupos para a atividade musical, nos plátanos que rodeavam o campo de jogos, iam brotando e crescendo, como que por magia, as tenras folhinhas, cobrindo de verde cada árvore que o outono despiu. Mas havia outras árvores que nos despertavam o olhar e o coração, entre elas, as cerejeiras, as ameixoeiras, os diospireiros, as pereiras, os castanheiros, por entre o verde de tantas outras espécies de árvores de folha perene.
Tudo, naquela Quinta da Armada, nos remetia para o Criador e para a criação. Eram os pássaros a chilrear, as abelhas, as borboletas, o sol radiante, o ar com cheiro a primavera. Toda a atmosfera nos envolvia na imensidão do amor de Deus, que nos interpelava a expressar, à Sua imagem e semelhança, «Que tudo isto era bom».
Que privilégio, que deleite, poder usufruir, contemplar e respirar esta atmosfera que nos arrebatava para o Divino, exortando-nos a renascer, pela graça de Deus, após os momentos de invernia que tantas vezes perpassam a nossa vida. Retomando os acontecimentos que contribuíram para percecionar a vida pela mão de Deus, recordo a extraordinária alegria e encantamento quando saíamos para celebrar a chegada da primavera. Os grupos, com as sementes e algumas plantas na mão, juntavam-se para semear, plantar, regar, na esperança de que Deus fizesse germinar, crescer e dar os frutos desejados.
A poesia
E a poesia elevava-se para Deus, através das canções que enalteciam a chegada da primavera. A plenos pulmões, cheios de entusiasmo, entoávamos:
A primavera chegou, eu sei que ela chegou, quem foi que isso te contou?
As flores, os passarinhos, as borboletas, as abelhas, os gafanhotos, as árvores…
As andorinhas e passarinhos
todos fazem seus ninhos.
E os animais em hibernação
ressurgem do chão.
Surgem flores de todas as cores
Que belo colorido!
“Vestem-se” as árvores depois do Inverno
Tudo fica tão belo!
Tudo está em evolução
Desponta a vida
É o começo de uma estação:
A Primavera florida!
A água
Por entre o eclodir dos sons diversificados dos pássaros, ouvia-se o som da água cristalina que jorrava da nascente, que caía com maior intensidade nos tanques situados a norte e a sul do campo das ameixoeiras, e que transbordavam graças à abundância da fonte. Ainda que fosse muita nesta época do ano, havia sempre o cuidado de sensibilizar para a sua economia, apenas abrindo as torneiras quando fosse necessário.
A semana maior
Mas o momento que nos era também muito querido, era a oração da Via-Sacra, que acontecia sempre dentro da Semana Maior – Semana Santa. Com as crianças, percorríamos os magníficos espaços exteriores, adentrando-nos na montanha, recordando os últimos momentos da vida de Jesus, que antecederam a Sua ressurreição. Algumas crianças mais crescidas, com indumentária caraterística, representavam os acontecimentos de cada estação da Via-Sacra.
Estas vivências contribuíam para despertar a nossa gratidão por todas estas bênçãos e graças que nos integram no reino de Deus, reconhecendo que só n’Ele e por Ele está a origem e o cume de toda a vida, e que “assim é também para que não nos gloriemos de nada, mas que toda a glória seja dada a Deus, única fonte de tudo o que é bom.” GS/28/VII/72/A*
Aproxima-se a Festa da Páscoa. Ousemos colocar-nos nas mãos de Deus, para que assim como Ele ressuscitou Jesus e dá a vida a todas as coisas, a nossa vida se renove, “que tudo seja novo em nós: os corações, a voz, os atos. Que tudo em nós tome a forma de Jesus Cristo. Sim, sejamos Jesus Cristo; foi para isso que Ele veio. Ele traz-nos a vida que tínhamos perdido. Ele no-la traz, mais bela, mais fecunda.” GS/17/XII/78/A*
Gaspar Cruz
Família Alargada do Sagrado Coração de Maria
