Criado pela The Stars Foundation com o objetivo de nos recordar todos aqueles que crescem sem mãe, pai ou qualquer outro familiar próximo, o Dia Mundial do Órfão é assinalado todos os anos na segunda segunda-feira de novembro.
Dados da The Civil Society Forum for the Rights of the Child, estimam a existência de cerca de 153 milhões de órfãos no mundo. É nas populações expostas a cenários de guerra, fome, doença ou pobreza que se verificam mais casos.
Segundo dados da UNICEF, Portugal é o país da Europa Ocidental com mais crianças acolhidas em instituições. Estas crianças são órfãs, provenientes de famílias desestruturadas ou em situação de grande vulnerabilidade. Na sua maioria, estas crianças institucionalizadas apresentam sinais de atraso na linguagem verbal, assim como, indicadores de desenvolvimento global inferior ao expectável para a idade. Estes efeitos negativos são particularmente evidentes durante os primeiros anos de vida.
Hoje sabemos o quão determinantes são para o desenvolvimento de um bebé, criança, adolescente ou na chegada à fase adulta, as relações, os afetos, os cuidados, o meio envolvente e as oportunidades de estímulos.
Todos estes fatores podem influenciar, de forma positiva ou negativa, a aquisição de aprendizagens, aptidões, habilidades e competências, sejam sociais, emocionais, físicas ou cognitivas. A janela de oportunidade da primeira infância é, por isso, um período de excelência para a vinculação, formação da personalidade e exposição a ambientes estimulantes que potenciem o desenvolvimento integral da pessoa.
A família assume o lugar expectável e natural para o ser humano potenciar todas as suas capacidades. É o espaço de afetos, exemplos, tradições, limites, proteção, vivências, educação, isto é, um lugar de amor. Mas e quando falha esta premissa?
A vida e obra de Jean Gailhac é um testemunho e um incentivo de como podemos e devemos ter um olhar de cuidado, nomeadamente com os vulneráveis. Será nossa responsabilidade zelar pelo bem-estar físico e material, mas com igual peso e importância, zelar pelas referências, pelo amparo, pela atenção, pelo carinho de que a criança órfã carece.
A comunidade, ao acolher com dignidade o órfão, ainda que não suprindo a ausência da família, está a assumir um papel que pode ser determinante para o sucesso e construção deste enquanto pessoa.
Como sociedade, cabe-nos o papel de, na ausência de familiares, zelar pela criança órfã, agregando todos os esforços para que esta falha tão significativa e profunda, seja superada com o menor prejuízo. Os espaços, instituições, escolas e todos os intervenientes são parte ativa e determinante em todo o processo. É uma missão que nos é lançada e que implica uma enorme responsabilidade. Aceitar o desafio implica acolher quem nos chega, abrir os braços, estar dispostos a construir laços, escutar com o coração, ser exemplo, implicar-se em todo o processo.
Todas as crianças o são, mas a criança órfã é-nos, particular e especialmente, confiada!
Que as crianças vejam na prática aquilo que lhes dizem em palavras, pois elas ouvem mais pelos olhos do que pelos ouvidos. Tudo estará perdido se elas as virem fazer o contrário do que lhes dizem e ensinam. Nesse caso, não darão mais atenção. O que lhes fica na memória é apenas aquilo que viram fazer e praticar. (GS/3/IX/80/A. Vol. II, p. 180)
O primeiro passo está dado quando este envolvimento dos adultos cuidadores é sentido e experimentado pela criança, que assim se permite confiar, sente-se acompanhada, deixa-se guiar, arrisca descobrir o mundo que a rodeia e acredita que é capaz.
Gailhac não nos deixa esquecer - Importa que a criança saiba e sinta que a amam, que tudo o que fazem é para o seu bem. (GS/3/IX/80/A. Vol. II, p. 180). A resposta estará sempre no melhor que Deus nos deu - um coração bom.
Rita de Andrade e Sousa Madureira
Educadora