Saber-se acompanhado e acompanhante, num “nunca caminharás sozinho”, constitui uma das belezas de uma vida humana completa, que me foi dada viver.
Tive a sorte de, nesse caminho, ter dois. Cada um diferente do outro, como cores de paletes diferentes, formatos exclusivos que não se comparam. E, eu, claro, diferente de cada um deles. Tal diferença faz-me experimentar o desafio da diversidade e a necessidade de construir a unidade no essencial.
Não somos gémeos, é verdade. Pensamos de diferentes modos, agimos em sentidos distintos, mas no final do dia, estaremos lá para o que der e vier.
Para o mais importante, não importarão as diferenças. Sabemos que no dia em que for preciso, nenhum faltará à chamada e a capacidade de ultrapassar diferenças será mais do que suficiente para sermos um punho fechado, uma mão unida.
Mais do que genes, partilhamos uma história vivida, de heranças simbólicas e referentes simples.
Prolongamos as gerações que nos antecederam com sangue, suor e lágrimas e procuramos, cada um à sua maneira, fazer justiça a esse fio da vida.
E é nesta experiência de irmãos de sangue que encontro a mais bela metáfora para uma outra ambição: saber-nos filhos do mesmo Pai. Nós todos, da família humana.
Entre as muitas coisas que Deus nos dá, esta não é seguramente a menor: o fundamento para uma fraternidade humana sem limites, nem exclusões, nem medo das diferenças. Com essa incómoda certeza de que somos todos companheiros de viagem, braços da mesma árvore, diria Mandela, somos chamados ao melhor de nós para nos tornarmos o que somos: irmãos.
Bem sei que 31 de maio nos traz o Dia dos Irmãos.
E que, naturalmente, fica bem dizer que todos os dias são dias dos Irmãos. No entanto, a verdade é que essa natureza irmanada é feita de eternidade, de um “para sempre”, e “em qualquer circunstância”. Sem dia. Sem dias. Sempre, mesmo. E com todos, todos, todos.
Rui Marques